Um cavaleiro medieval disputa um jogo de xadrez com a Morte, tendo ao fundo um céu de nuvens negras. A cena, uma das mais famosas da história do cinema, pertence ao filme O Sétimo Selo, dirigido pelo sueco Ingmar Bergman e lançado em 1957.
Max Von Sydow interpreta o cavaleiro Antonius Block, que retorna com seu escudeiro de uma Cruzada e encontra sua terra natal devastada pela peste. Quando a Morte, personificada pelo ator Bengt Ekerot, surge para levá-lo, Block propõe que disputem um jogo de xadrez. Se o cavaleiro vencer, continuará vivo; caso contrário ele e os que o acompanham serão levados pela Morte.
O roteiro do filme foi desenvolvido a partir de uma peça de teatro do próprio Bergman, chamada Trämalning (Pintura sobre Madeira). A cena do jogo de xadrez entre o cavaleiro e a morte foi inspirada em uma pintura do século XV feita pelo artista Albertus Pictor.
O Sétimo Selo foi o filme mais ousado e autoral feito por Bergman até então. Sua visão crítica da Igreja Católica pode ser vista tanto nas cenas em que uma garota é presa por membros da Inquisição e queimada em uma fogueira, quanto na passagem da procissão de fanáticos religiosos que se imolam, acreditando que assim evitariam a peste.
A obra de Bergman, que até então tinha grande influência do movimento neo-realista, passa a abordar com mais intensidade questões metafísicas. As inquietações existências do diretor são expressas pelo cavaleiro Block, que atormentado pela proximidade de seu fim, passa a se questionar sobre o sentido da vida e a existência de Deus. Como contraponto ao cavaleiro idealista, seu escudeiro é um homem prático, realista, que acredita que não há respostas para as questões existenciais de Block. O personagem do escudeiro representa uma possível resposta às questões do cavaleiro: é impossível saber se realmente existe um deus ou um sentido para a existência humana, então nos resta viver da melhor maneira possível, até que a morte finalmente vença o jogo. Mas a filosofia de um personagem nunca se sobrepõe a do outro, evitando assim uma resposta definitiva. O diretor teve a inteligência e sensibilidade de permitir que cada espectador busque sua própria resposta.
O clima sombrio do filme é entrecortado por algumas cenas cômicas e luminosas, geralmente protagonizadas por um grupo de teatro mambembe. Certamente Bergman aprendeu esse tipo de estrutura narrativa com as peças de Sheakspeare que dirigiu para o teatro, no início de sua carreira. A família de atores desse grupo mambembe atravessará as adversidades da vida, a escura floresta e a tempestade, e sobreviverá para que no filme haja um perfeito equilíbrio entre o horror da morte e a alegria da vida.
O roteiro foi depurado por Bergman até se tornar irretocável. Todas as cenas possuem um sentido, um motivo para estarem no filme, nada é supérfluo. Todos os personagens são importantes e bem construídos. A montagem e a fotografia são precisas e discretas.
Apesar de profundo e reflexivo, O Sétimo Selo é acessível ao grande público, possui cenas antológicas e é considerado um dos maiores clássicos do cinema mundial. Está sendo lançado em Blu-Ray pela Versátil Home Vídeo, trazendo entre os extras o ótimo documentário A Ilha de Bergman, sobre a vida e obra do artista.
Filme incrível e quase insuperável (ainda prefiro Persona). Deve ser fantástico assistí-lo em blu-ray! Mas quais os extras?
Boa pergunta. Além do documentário de 86 min., apenas o trailer de cinema. E o filme é restaurado.
Mas a edição americana da Criterion tem mto mais extras e é mais barata: http://www.amazon.com/Seventh-Seal-Criterion-Coll…
Wow…eu entendo que o Blu-Ray tem o grande atrativo da imagem, mas putz, o que mais me interessa no formato são os grandes extras. Que decepção!
por isso ainda não vale comprar blu-ray, o conteúdo é o mesmo do dvd, só vale pela qualidade da imagem, que é realmente superior, mas no todo, não é a mudança de paradigma que o dvd foi em relação ao vhs. É apenas um hd
não é bem assim. eu tenho alguns blu-rays importados que tem trocentos extras interessantíssimos. a própria edição americana da criterion é uma beleza nesse departamento. isso é a cultura dos selos brasileiros mesmo, que sempre lançaram dvds com o mínimo de extras possível. putos!
Eu também gostaria de saber por que os dvds e blu-rays nacionais geralmente são tão pobres de extras… Vários DVDs de filmes clássicos trazem apenas o trailer de cinema como extra. Não é à toa que muita gente prefere baixar o filme na internet. Isso sem falar de algumas legendas com erros absurdos de tradução.
Thanks for the great read!