Os fins continuam justificando os meios em Game of Thrones. A questão principal, vista e comprovada nessa quinta temporada, é que são fins muitos bem embasados pela força de sua própria mitologia.
Vamos combinar: essa temporada beirou o tédio nos primeiros episódios. A construção narrativa soava atravancada na derivação dos plots individualizados em seus diversos núcleos. Basta ver a trajetória insípida de Arya Stark (Maisie Williams) ou o desinteressante revés de Tyrion Lannister (Peter Dinklage) para confirmar o quanto foi uma temporada morna.
Pior ainda foi Brienne (Gwendoline Christie) que praticamente inexistiu durante toda temporada, mas que no décimo e decisivo episódio, cumpriu uma promessa feita lá pela segunda temporada. Ou seja, uma resolução apressada para uma trama simplista.
Mas Game of Thrones tem uma qualidade poderosa que suplanta o preço que paga por sua ambição narrativa: a astúcia dramática com que maneja corajosamente as peças de seu jogo narrativo. E os três últimos episódios foram espetaculares. E principalmente, nos mostrou o quanto a urgência do fim da tal guerra é mais complexa do que propriamente anunciada.
Depois de um oitavo episódio catártico com a angustiante (e muito bem filmada) Batalha de Hardhome e um já tradicional penúltimo episódio onde a tragicidade marcou os ápices do desenvolvimento da trama (alguém falou sobre a Arena de Daznak?), a série se encerrou com um “capítulo” apressado, mas resolvendo algumas arestas e abrindo dimensões para boas histórias dentro do mesmo universo.
Assim, a série renova seus tentáculos diante de ganchos persuasivos como o destino de Daenerys de Emilia Clarke (foi capturada pelos Dothrakis?), as consequências do que Arya se tornou ou o que o olhar de Cersei quis dizer sobe seu futuro, após a humilhação histórica que passou em sua dramática Caminhada da Vergonha (intenso trabalho de Lena Headey)?
“Mother’s Mercy” nos reservou um final, para dizer o mínimo, surpreendente. Ainda que não devêssemos nos exaltar com as surpresas de uma série tão amoral, não dá para não se impressionar com o desfecho do personagem mais lúcido da série, Jon Snow (Kit Harington), que indicou o quanto o universo de George R. R. Martin relativiza a noção de bravura.
Game of Thrones continua fazendo de seus fins a justificativa de seus meios. Essa temporada se destacou por reforçar a tese através de seus próprios princípios, um tanto dolorosos. É hora de renovar o sistema nervoso para aguardar a sexta temporada…