É relativamente fácil saber que tipo de série está na moda em determinado momento. Séries sobre situações familiares dominaram por muitos anos, até o final da década de 80. Tivemos um boom de séries sobre amizade e relacionamento, e hoje vivemos mais em um mundo fictício e distópico que no mundo real: monstros e super-heróis fazem mais sucesso que gente de carne e osso.
O ápice das séries de investigação já passou há algum tempo. Em meados dos anos 2000 tínhamos ‘Monk’ na comédia, ‘Law & Order’, ‘CSI’ e suas muitas variantes no drama, e outras tantas que se encaixam no sub-gênero policial. Algumas ainda sobrevivem, como ‘Criminal Minds’ e ‘Bones’, mas o auge já passou.
E isso prejudicou “Os Mistérios de Laura”. E adicionou mais um fracasso à suposta maldição vivida por Debra Messing, que desde o final da série “Will and Grace” não tem um grande sucesso na TV. Mas se há alguém que devemos culpar pelo fracasso da série, é quem demorou tanto para levá-la para a televisão americana.
Laura Diamond (Messing) é a melhor detetive da delegacia de homicídios de Nova York. Ela também acabou de se separar, e por acaso seu ex, Jake Broderick (Josh Lucas), é nomeado o novo capitão da divisão em que trabalha.
A dúvida que permeia a série desde o início é: a relação recém-terminada vai ser um empecilho para Laura e Jake no trabalho? Eles vão seguir em frente e começar novos relacionamentos? E como ficarão seus filhos gêmeos? Afinal, os pais têm uma profissão pra lá de perigosa!
Mas a série é inteligente e é isso que me encanta nela. Cada episódio, com pouco menos de uma hora de duração, conta um caso diferente, com raros casos se estendendo por dois episódios. Os crimes são desvendados com sagacidade e alguma tecnologia, e o desfecho é em geral surpreendente. As habilidades detetivescas dos espectadores também vão sendo testadas em todos os momentos!
“Os Mistérios de Laura” é a versão americana para uma série espanhola de mesmo formato e temática. “Los Misterios de Laura”, a original, foi um sucesso de público, durando três temporadas que foram exibidas em anos alternados (2009, 2011, 2014). Só após o final da série espanhola a rede americana NBC anunciou planos para o remake. E este foi um grande erro.
Se tivesse começado em 2010, “Os Mistérios de Laura” provavelmente teria uma vida mais longa. Em 2014, os seriados policiais estavam já mais restritos a um público fiel, mas numericamente pequeno. E nós sabemos que ratings são o que decidem o destino de uma série. Apesar de atrair sete ou oito milhões de telespectadores por episódio, a série foi cancelada em 2016 (os programas de mais sucesso costumam atrair o dobro de audiência).
Em tempos de luta para que haja mais mulheres protagonistas no cinema e na TV, a série nos trouxe duas moças independentes, corajosas e cheias de atitude: além de Laura, outro destaque feminino é a jovem policial Meredith Bose (Janina Gavankar), uma garota bonita, decidida e que abraça seu lado nerd.
Se Meredith é moderna, em sua conduta e em seu relacionamento com o colega Billy (Laz Alonso), Laura retrocede quando o assunto é romance. Os momentos focados na dúvida “ela vai ou não perdoar a traição e voltar para Jake” desgastam o show, e soam incompatíveis com uma personagem tão determinada.
O elenco de apoio é excelente, incluindo o ajudante Max (Max Jenkins), a capitã Santiani (Callie Thorne) e a tenente Frankie Pulaski (Meg Steedle). Cortar a personagem Frankie na segunda temporada, aliás, decepcionou muito os fãs da série. Santiani é uma personagem que cresceu e se tornou mais palatável, mas a coexistência das duas não era impossível; seria até benéfica, aliás.
“Os Mistérios de Laura” é uma série com mentalidade de 2010, e que não repercutiu como esperado com o público de 2015/2016. É inteligente na parte criminal, mas falha na parte emocional. E, pobrezinha, por ser fora de seu tempo, acabou cancelada, mas vale a pena ser conferida sem compromisso.
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