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Panorama do mercado de home video

No final da década de 90, as videolocadoras enfrentavam um momento de incertezas com a drástica diminuição de locações de fitas VHS. Nessa época, surgiram os DVDs, que a partir do ano 2000 geraram especificamente sete anos de bonança ao mercado de home video brasileiro, como concordam os donos de locadora no Rio. Entre 2007 e 2010, as perdas foram de 25 a 40% nas locações para aquelas que sobreviveram. Marisa Brito, dona da marca Videosession, que hoje tem duas lojas no Rio de Janeiro – em Botafogo e São Conrado – já teve sete. Algumas das lojas que fecharam chegaram a ter 50% de queda. Como prova de que esse mercado é cíclico, os proprietários de videolocadoras afirmam que de 2010 para cá houve estabilização ou até aumento nas locações. Leandro Teixeira Lima, da locadora G Video Kodak, em Copacabana, é o mais otimista. “Desde 2010 essa loja vinha crescendo 3% ao mês. Em maio, porém, cresceu 10% e no mês seguinte cresceu 23%”, afirma ele, que também é representante da Wmix, empresa que revende as distribuidoras Paramount, Imagem e Europa no estado.

Todos concordam que o Blu-Ray não está fazendo pelo mercado o que o DVD fez no final da década de 1990. “A indústria não investiu nessa nova tecnologia”, reclama Marisa. Leandro completa: “Quantos comerciais de TV você viu sobre o Blu-Ray?” Mesmo que haja consenso de que não devam trocar seus acervos de DVD para Blu-Ray, os proprietários de locadora já compram de 20 a 30% dos seus lançamentos na nova plataforma. Segundo a União Brasileira de Vídeo (UBV), em 2010 as videolocadoras compraram 260 mil Blu-Rays ao passo que esse número em 2009 foi de apenas 19 mil.

E esse fluxo de clientes nas locadoras não se restringe à Zona Sul do Rio. Marcos Eduardo é um dos proprietários da Próxima Sessão, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Com um acervo de 10 mil cópias, Marcos garante que conseguiu achar um público que não se rendeu à pirataria, o maior mal desse mercado em regiões de poder aquisitivo mais baixo. A prova do sucesso é que ele abriu sua videolocadora no que, todos dizem, foi o pior momento do home video nos últimos anos: o fatídico 2007. “Eu não sei como foi antes de 2007, porque eu não tinha locadoras, mas desde que abri a loja cresço cerca de 2% ao mês. Eu já encontrei o mercado assim, então, não experimentei perdas”, conta ele, que já tem planos de abrir novas lojas. Mas a sua fórmula de sucesso envolve outros elementos. Marcos Eduardo agregou valor ao seu estabelecimento com um café que, atualmente, é responsável por 50% de seu faturamento. No início, porém, todo seu público era para a locadora. Aos poucos souberam da cafeteria, que começou a ganhar visitantes que vinham alugar filmes. Hoje, já há quem venha tomar um cafezinho e fazer um lanche ou usar o wi-fi e aproveite para pegar um DVD ou Blu-Ray. Além disso, a Próxima Sessão fica aberta até às 22h todos os dias, inclusive nos domingos, um diferencial comparado aos concorrentes, segundo seu proprietário.

Surpreende que o mercado de home video no Brasil possa estar ameaçando aumentar quando, mundo afora, sua tendência é ser solapado pela pirataria, os downloads, a tecnologia da NetFlix – que permite assistir filmes online via streaming, aqui no Brasil sob o nome de NetMovies – e o pay per view na TV a cabo. E, por aqui, ainda contamos com o GatoNet, que domina em regiões mais pobres. É claro que todas essas tecnologias e manhas já tiram clientes das locadoras há alguns anos, mas, nas regiões mais nobres do Rio, muitos clientes estão retornando ou em busca da alta qualidade que só o Blu-Ray proporciona ou por falta de paciência para se dedicar a downloads. “É muito bacana quando você consegue baixar um filme, legendá-lo e assistí-lo, mas depois enche o saco ter que perder todo esse tempo”, diz Caio Victor Branco, estudante de 20 anos, cliente da Próxima Sessão.

Apesar de a qualidade do Blu-Ray ter trazido novo público às locadoras – ou feito algumas pessoas retornarem –, há expectativas de que a tecnologia do Blu-Ray 3D seja ainda mais impactante. Apesar de estar em lados opostos do Grande Rio, Marcos e Leandro contam que seus clientes já estão ávidos por filmes que tenham a tecnologia. “Eu já falei para os meus distribuidores que eu quero tudo que sair em 3D”, conta Marcos. Com maior investimento em publicidade que o Blu-Ray, que perdeu muito tempo na disputa travada com o já extinto HD-DVD, as TVs com tecnologia 3D começaram a ser vendidas no Brasil há cerca de um ano. Atualmente, a mais barata – de Plasma da Samsung – sai por preços a partir de R$ 1889,10.

Nem todos são otimistas

É claro que as novas mídias podem não ser a redenção desse mercado combalido. Há dificuldades menos óbvias para o consumidor padrão que não conhece as minúcias da área. No Brasil, o mercado de aluguel de filmes também rende muito às distribuidoras. Isso acontece, em parte, porque nosso país também se destaca como único no mundo a ter preços tão altos na venda de DVDs lançamento para as videolocadoras. As distribuidoras impõem valores próximos a R$ 100,00 para cada cópia de seus novos títulos. Apenas a Fox Filmes e a Warner se propõem a cobrar cerca de R$ 40,00 por cópia, visando uma venda maior. Agora como representante da Wmix, Leandro explica que sua empresa já tentou baixar preços, mas observou que vendiam mais cópias apenas por alguns meses porque depois as locadoras voltavam aos níveis das compras anteriores. Ele usa esse exemplo para dizer que o setor não é unido. “As locadoras não têm o mesmo poder de barganha que o cinema, que tem um pessoal mais organizado em volta dos seus interesses comuns,” comenta ele. Leandro lembra que quando algumas lojas decidem boicotar um filme devido às condições impostas pelas distribuidoras, algum concorrente se aproveita disso para comprar mais cópias e vender mais. Por esse tipo de divergência que a associação que foi montada não deu certo. Marisa contou que, até dois anos atrás o embrião de sindicato tinha alguma força, mas atualmente ela é nula.

Outra dificuldade que os donos de locadora têm enfrentado na relação com as distribuidoras concerne a abertura das janelas de comercialização dos títulos. Os filmes costumam sair no cinema e, cerca de três meses depois, chegar às locadoras – esse prazo já foi maior, de mais ou menos seis meses. Após mais um tempo, era comercializado com as TVs por assinatura, para uso no pay per view, e também disponibilizado para o varejo. Esses prazos não têm sido respeitados. Alguns filmes chegaram às locadoras e às TVs a cabo ao mesmo tempo, como aconteceu com o filme “O Turista”, com Johnny Depp e Angelina Jolie. Outros seriam empurrados às locadoras em condições tão desvantajosas que elas esperaram chegar ao varejo, como foi o caso do desenho animado “Rio”. Para Marisa, da VideoSession, todas as janelas deveriam ser abertas juntas, assim o consumidor decide se quer pegar o filme na locadora, ver no cinema, na TV a cabo ou comprá-lo.

Por essas e outras, pequenos crescimentos nas locações não enchem muito os olhos de alguns proprietários. Paula Lima Netto é a dona da Imaginário, que fica localizada no Centro financeiro do Rio de Janeiro, próximo à Praça XV. O seu lema é: “A locadora está aí porque não existe um modelo melhor. Talvez seja a hora de mudar. Pra onde? Não sei.” Paula é experiente. Desde 1984 está envolvida com o mercado de vídeo e há 13 anos é proprietária de locadora. Ou seja, ela viu o home video surgir no Brasil, numa época em que as lojas eram obrigadas a comprar tudo o que a distribuidora oferecia porque os filmes originais em VHS estavam começando a chegar ao Brasil e o acervo de cópias precisava ser substituído. “Mas eu não faço mais previsões. Errei todas. Eu achava que hoje em dia não haveria mais videolocadoras”, diz ela. Paula teve uma queda de 33% nas suas locações entre 2007 e 2010.

Marisa também é daquelas que vê a videolocadora em declínio, embora duvide que vá deixar de existir. “Devido ao tempo gasto com a internet e especificamente com as redes sociais, acho que será cada vez menor o número de pessoas que se propõem a ficar em casa, frente a uma TV, vendo um filme por duas horas,” argumenta Marisa. Ela também diz que, com tantas coisas acontecendo no sentido de restringir o público das locadoras, poucas vão sobreviver e essas servirão gente interessada no ambiente cercado de filmes, no papo sobre cinema com o atendente cinéfilo e nos títulos mais alternativos.

Mateus, o Balconista: segundo Leandro, esses tipos de cliente existem

O atendente capaz de falar sobre cinema com desenvoltura, cujas complexidades da função são explicitadas pela série que virou filme “Mateus, o Balconista”, com Mateus Solano no papel principal, é elemento que diferencia locadoras tradicionais de gigantes como a Blockbuster, que, depois de um pico de sucesso, minguou no Brasil. Por aqui, a rede americana foi comprada pela Lojas Americanas e, como a maioria dos donos de locadora comentam, virou uma atração de fundo de loja para que pessoas não resistam a comprar doces, biscoitos etc. A gigante (ou ex-gigante) fez muitas lojas menores fecharem quando surgiu, mas para Paula, a Blockbuster foi, sobretudo, importante para o mercado: “A concorrência pesada fez as outras locadoras se profissionalizarem.” Resta saber se, como profissionais que agora são, empresários como Paula, Marisa, Leandro e Marcos serão capazes de evitar que as locadoras se tornem dinossauros como o VHS.

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