Quartas de Sangue e Riso #2 – Dexter 5: O que virá agora?

Como fazer com que um psicopata seja amado? Como construir um herói dentro da mente doentia de um assassino serial? Estas bem que poderiam ter sido algumas das perguntas que incitaram o escritor Jeff Lindsay à atribuir qualidades tão nobres a seu personagem protagonista, qualidades estas que deveriam ser exigidas às atribuições de qualquer homem à serviço da lei. Bam! Eis nosso herói. Um psicopata analista forense que mata sim, mas só bandidos. Aí pode, certo?

A premiada série Dexter que caminha para sua quinta temporada, conta as aventuras de Dexter Morgan (Michael C. Hall), um analista forense da polícia de Miami especialista em padrões de dispersão de sangue. A série é baseada na obra literária Darkly Dreaming Dexter, escrita pelo autor supracitado. Para ser sincero, ainda não tive a oportunidade de ler este livro, de modo que não estou apto para dizer se o programa é fiel às páginas de tal obra. No entanto, é interessante apontar que a rede americana Showtime conseguiu manter um alto nível de profissionalismo no que diz respeito a adaptação de roteiro, elenco, fotografia e todos os elementos que compõe esta pérola que já se tornou um sucesso nestes quatro anos de vida. Talvez o formato de 12 episódios por temporada tenha ajudado a manter a série sempre em um ritmo alucinante, sem episódios cujo único propósito é enrolar o espectador (Lost?).

O menino Dexter foi criado como um sobrevivente de uma atrocidade. Logo quando pequeno, perdeu sua mãe em uma cena de violência grotesca. A criança foi resgatada por um policial, depois de passar horas chorando sentada sobre uma imensa poça de sangue, em companhia do corpo morto de sua mãe. Harry, seu salvador, o adotou, e começou a observar que seu novo filho demonstrava sérias tendências psicopatas, como matar animais por diversão. Certo de que aquele comportamento tratava-se de um distúrbio pós-traumático, Harry o educou, treinou e focou seu instinto assassino sobre os bandidos. Sabia que o menino tornar-se-ia um Serial Killer, era inevitável, portanto o ensinou a tornar-se irrastreável, implementando o muitas vezes citado na série, “Código de Harry”. Dexter cresceu com a imagem de um homem de bem, ocultando o monstro dentro de si. Estudou e conseguiu um emprego como analista forense no mesmo departamento de polícia que outrora trabalhara seu pai. Desde então ele utiliza seu conhecimento e seu acesso a arquivos do departamento, para planejar sua caçada e ocultar as evidências. Ao mesmo tempo em que tenta ser um homem comum, preocupado com a família, que sai com as amigos e com a namorada…

Se você não conhecia a série (shame on you!), deve ter ficado no mínimo interessado. Então trate de ir logo assistir, porque os comentários abaixo estão recheados de SPOILERS sobre a última temporada. Esteja avisado!

A 4ª temporada

O que me faz gostar cada vez mais de Dexter é que toda temporada temos uma história completamente independente, focada sobre um “inimigo” novo sem quaisquer relações com as temporadas anteriores (uma boa estratégia para apanhar novos fãs), mas paradoxalmente há sempre um novo elo que ligará o fim de um ano ao início e aos subplots da temporada seguinte. É algo que faz com que o fã e antigo espectador fique curioso com o que virá, enquanto possibilita ao mesmo tempo, que um novo público acompanhe o programa sem maiores problemas. Curiosamente e propositalmente, este elo é sempre algo EXTREMAMENTE sensacional.

Nesta quarta temporada esta idéia me fez exercitar constantemente minha mente, eu ficava imaginando qual seria o artifício que seria utilizado pelos roteiristas para fazer esta ponte de um ano para o outro. E, eu NUNCA teria imaginado a última cena do jeito que foi feita. Sabe, eu já até deveria estar acostumado com o verdadeiro motivo que concerne os finais de temporadas em Dexter, que são, na verdade, um motivo para atrelar uma nova responsabilidade e ao mesmo tempo despertar um comportamento ou sentimento, em nosso adorado protagonista. Foi assim quando ele se casou, foi assim quando se tornou pai. É uma bola de neve que deixa seus atos psicóticos cada vez mais desprotegidos, criando dificuldades em progressão geométrica para seu disfarce perfeito. É algo que nos deixa apreensivos ao passar do tempo. Rita era a pessoa viva que talvez mais o apoiasse e entendesse. Claro que ela não sabia nada sobre o hobbie preferido de seu marido, mas parecia que Dexter sempre se sentia meio que protegido e em paz em sua companhia. Seu filho veio para selar este sentimento. Com sua morte, eu pergunto: O que virá agora? Como ele irá se virar para ser assassino nas horas vagas, pai viúvo de dois enteados e um bebê, e analista forense da polícia? Como ele não nutre quaisquer sentimentos por ninguém (ou será que nutre?), em teoria os únicos questionamentos que deveriam tomar conta de nossas consciências são estes impasses ligados ao tempo e suas responsabilidades. Porque, se ele tiver se tornando um pouco mais humano, haverá uma pequena surpresa relacionado à vingança nos esperando nesta 5ª temporada. De qualquer forma, Dexter é uma série cuja qualidade faz jus aos prêmios ganhos nos últimos anos (2 Emmys e 2 Globos de Ouro – entre eles melhor ator para Michael C. Hall) e uma bela oportunidade de vermos algo completamente novo e muito bem executado em contraste à este emaranhado de produções genéricas que vão ao ar de tempos em tempos.

A 5ª temporada chega dia 27 de Setembro às Tvs americanas. Ainda está looooge, infelizmente. 🙁