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Resenha: Wilson de Daniel Clowes

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Daniel Clowes é de muito longe um dos melhores quadrinistas da atualidade, muitos adoram sua arte realista-freak e suas histórias surreais e ao mesmo tempo familiares. Como já foi noticiado aqui pelo Ambrosia o autor lançou seu último trabalho em Maio, chamado de Wilson, que acabou por dividir severamente a crítica e os fãs de Clowes.

Wilson é bem diferente de tudo o que o autor já havia produzido, pelo menos em termos de forma e dinâmica, já que a história se mantém essencialmente existencialista e ácida como é comum aos roteiros de Clowes. Basicamente temos tiras de uma página que retratam pequenos momentos da vida do protagonista, elas funcionam independentemente mas o verdadeiro espetáculo está no quadro que lentamente vai sendo pintado ao lê-las em sequência. As tintas demoram para se fixar, mas o resultado vale muito a pena.

Não é exatamente a mais bela das pinturas, Wilson é um grande babaca. Um personagem woodyalleano ainda mais doentio do que aqueles que protagonizam os filmes deste diretor. Ele é hipócrita, espírito de porco, solitário, sociopata, calhorda e ao mesmo tempo muito compreensível e reflexivo. É assustador se identificar várias vezes com alguns dos momentos mais críticos de Wilson. Nós vemos um pouco enquanto observamos a vida de Wilson passar, que é bem coberta aqui na obra, desdobrando-se por um período de cerca de 40 anos.

Em termos visuais Wilson também é uma surpresa, nenhuma historieta é desenhada igual a outra, todas apresentam variações interessantes que vão desde completas mudanças de estilo e diferentes paletas de cores. Ainda que eu seja muito fã da arte simples/freak/realista de Clowes achei legal vê-lo experimentando tanto, o que torna esta graphic novel ainda mais destacada dentro do repertório do autor. O traço inconfundível de Daniel é mesclado com cartoons e cenas mais vintages que dão um tom diferenciado a história que está sendo contada.

O argumento do quadrinho em si varia muito. Ele não tenta ser engraçado o tempo todo, na verdade, parece até tentar ser mais impactante em um sentido de se desgostar do protagonista do que tentar fazê-lo engraçado. Existem muitos momentos onde a conclusão da tira é que o Wilson é um filho da mãe esnobe e hipócrita. Outros momentos são verdadeiramente tristes e emotivos. Obviamente, várias delas também são de humor (como as geniais “The Dark Knight” e “Bible Study” que ilustram este artigo, todas ampliáveis), e quando o autor busca esse tipo de situação elas são todas excelentes, mas vale avisar que não são maioria.

Ainda que a HQ construa uma bela história linear entre suas tiras de um página, uma das coisas mais interessantes que Daniel Clowes explora é o “não dito”. Aquilo que fica entre as tiras. É muito interessante ver as escolhas do autor sobre o que revelar e o que insinuar. Em nenhum momento o leitor se sente perdido, principalmente por que nada permanece mudo e é possível se compreender o que passou dada a sequência da história. Ainda sim, há espaço vazio o suficiente para você não ter certeza das coisas, e como todos os eventos são contados tão somente com os depoimentos do protagonista, essa sensação de incerteza sobre o que se sucedeu é reforçada.

Concluindo, esta resenha fica do lado da crítica que adorou o livro. Ele começa um pouco devagar e demora para você realmente se importar com o personagem, mas quando a história vai ganhando certa continuidade é difícil não se interessar por ela. Não é a obra prima de Daniel Clowes, mas é melhor que muitos quadrinhos no mercado atualmente, principalmente em relação a maioria daqueles editados pela grande mídia, sempre tão preocupados sobre as roupas novas da Mulher Maravilha.

Torçamos que uma editora brasileira traga as obras de Daniel para cá (se bem que Wilson não seria a primeira obra dele que eu editaria), a única “Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro” pela Conrad em 2002, já se encontra esgotada, mas vale a pena ser caçada, pois é uma obra fantástica, uma das melhores HQs traduzidas para o português.

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