"Bruxa de Blair" recicla as melhores ideias do original sem impacto – Ambrosia

“Bruxa de Blair” recicla as melhores ideias do original sem impacto

Lançado em 1999, “A Bruxa de Blair” foi um dos maiores fenômenos de filmes de terror dos últimos anos que, além de ganhar muitos elogios da crítica, conseguiu arrecadar quase US$ 250 milhões mundialmente, custando apenas US$ 60 mil. A grande sacada dos diretores e roteiristas Daniel Myrick e Eduardo Sánchez foi, com a ajuda da internet, que se popularizava cada vez mais naquela época, criar toda uma mitologia a respeito da bruxa, que se disseminou mundo afora, além de esconder os atores Heather Donahue, Joshua LeonardMichael C. Williams, após o seu lançamento, o que ajudou a tornar o filme mais “realista”, a ponto de muita gente achar que estava vendo um documentário e não uma ficção e que os protagonistas realmente tinham sido vítimas de um destino terrível.

O filme também ajudou a popularizar os chamados “found footage”, que seriam histórias montadas a partir de pedaços de filmagens que estavam perdidas ou inacabadas e caberia ao espectador encaixar as peças que faltavam. Como “A Bruxa de Blair” foi produzido com pouquíssimo dinheiro e rendeu bastante, surgiu uma série de filmes realizados de maneira semelhante (além, é claro, da péssima continuação “Bruxa de Blair: O Livro das Sombras”, feito às pressas para aproveitar o sucesso do original). Porém, quase nenhum deles conseguiu se tornar minimamente relevante.

Então, quando ninguém mais achava que a terrível feiticeira iria voltar a dar as caras, eis que, 17 anos depois do primeiro filme, surge “Bruxa de Blair” (“Blair Witch”, 2016), a terceira parte da apavorante história, que busca trazer de volta o mesmo clima da obra original. O problema é que, tirando uma inovação aqui e ali, não há nada de diferente ao que já foi visto antes e o resultado é nada menos que decepcionante e muito, muito ruim.

Ambientada em 2014, a trama é centrada em James (James Allen McCune), que nunca superou o desaparecimento de sua irmã, Heather (do primeiro filme). Um dia, ele descobre na internet um vídeo que dá uma pista de que ela ainda pode estar viva. O jovem decide, então, contar com a ajuda da amiga Lisa (Callie Hernandez), além do casal Peter (Brandon Scott) e Ashley (Corbin Reid), para ir até à floresta de Black Hills e descobrir o que realmente aconteceu com Heather. Chegando lá, o grupo é recebido por Lane (Wes Robinson), que gravou o vídeo, e sua namorada Talia (Valorie Curry), que se oferecem para guiá-los na mata. A princípio, tudo parece estar tranquilo e normal. Mas, quando a noite chega, eles começam a perceber que há algo de errado quando estranhos fenômenos começam a acontecer e uma estranha entidade parece estar ao seu redor, que pode ser a temida Bruxa de Blair.

Embora a intenção dos realizadores tenha sido boa de resgatar tudo o que funcionou há quase 20 atrás, “Bruxa de Blair” não consegue tirar a sensação de “déja vu”, que permeia boa parte do filme. Quem assistiu à primeira parte, ficará bastante decepcionado em perceber que o diretor Adam Wingard, de “Você é o Próximo” e “O ABC da Morte”, ao lado do roteirista Simon Barret, está muito mais preocupado em refazer diversas sequências já mostradas na produção de Myrick e Sánchez (que, aqui, voltam como produtores executivos), do que em fazer algo que consiga justificar a realização desta terceira parte. O filme mais parece um remake ruim do que uma boa sequência, devido à completa falta de criatividade durante a maioria de seus 89 minutos de duração.Os únicos elementos que distinguem “Bruxa de Blair” do filme original é o uso de câmeras mais modernas, equipadas com GPS e outros recursos que ainda não existiam em 1999, além de um drone, responsável por tomadas aéreas dentro da floresta, e que será relevante num momento da trama. Além disso, o roteiro procura encontrar justificativas plausíveis para algumas partes do mistério da bruxa, que até funcionam para expandir o seu universo já estabelecido no passado. Mas é muito pouco para tirar o gosto ruim que fica para quem está familiarizado com o que já existia. Para piorar, o diretor abusa em criar “jump scares” sem necessidade, que funcionam na primeira vez, mas vão ficando ridículos à medida que eles são repetidos com o desenrolar da trama.

Além disso, fica difícil curtir um filme de terror que, no fim das contas, não assusta tanto quanto deveria e não faz o público se importar com os personagens, pouco carismáticos. Nenhum dos atores se destaca no elenco, que se limita a fazer caras, bocas e gritos de uma forma bem clichê, ainda mais com as falas ruins do roteiro, a ponto de que não há surpresa quando à ordem de vítimas ou quem vai durar até o fim da história. Num dado momento, por exemplo, um deles comete bullying com outro. Logo, fica fácil de adivinhar o seu destino mais adiante, o que é frustrante neste tipo de obra, que deveria fazer com que o espectador se preocupasse com a vida das pessoas diante da perigosa ameaça. Mas não é isso que acontece aqui.

No fim das contas, “Bruxa de Blair” acaba se tornando mais uma das decepções do ano no cinema e só deve funcionar mesmo para quem nunca viu o primeiro filme da franquia ou se assusta facilmente com qualquer coisa supostamente aterrorizante. Faltou um pouco mais de coragem (ou mesmo criatividade) para que essa terceira parte conseguisse ficar verdadeiramente relevante. Talvez fosse melhor deixar a Bruxa em paz no meio da floresta. Seria melhor para ela. E para as produções de terror também.

Filme: Bruxa de Blair (Blair Witch)
Direção: Adam Wingard
Elenco: James Allen McCune, Callie Hernandez, Brandon Scott, Valorie Curry, Corbin Reid e Wes Robinson
Gênero: Terror
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Paris Filmes
Classificação: 12 anos

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