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“A Bruxa” é perturbadoramente como um pesadelo: crível e intrigante.

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O que faz de A Bruxa um filme realmente assustador, é a forma como capta a essência de um pesadelo. Porque um pesadelo real, daqueles que temos vez por outra, tem um nível de realidade agoniante, com algum sentido dentro daquele tempo subconsciente (!) e de significados lacônicos. Pois o primeiro filme do designer de produção e diretor teatral Roger Eggers se encaixa exatamente nessas definições.

Com produção brasileira (a mesma RT Features de Frances Ha), a trama acompanha uma família extremamente religiosa que, após ser expulsa de uma comunidade rural na Nova Inglaterra (EUA) do século XVII, vai morar numa fazenda isolada cercada por uma floresta. Lá, estranhos acontecimentos levam os pais a acusarem a filha mais velha, Thomasin (Anya Taylor-Joy, ótima), de bruxaria. Especialmente quando ela perde o bebê da família inexplicavelmente.

Outros sinais vêm a seguir, envolvendo os gêmeos Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson), além do filho do meio Caleb (Harvey Scrimshaw), determinado a ajudar seus pais a lidar com os misteriosos acontecimentos. 

O interessante da narrativa é a forma como Eggers trabalha o silêncio e a fotografia para dar alguma complexidade ao terror que a história vai suscitando. Mais do que isso, é um filme todo construído em cima da tensão permanente, impressa pelo cenário, ambientado numa floresta soturna, e o próprio isolamento da casa, realçado pela esfumaçada fotografia natural.

Além da construção sinistra de seus personagens, em sua maioria, crianças, que trafegam na linha tênue entre a graça e o desespero, diante da urgência dos fatos. Essa atmosfera criada pega a banalidade do gênero e a reconstrói na tela, tornando a relação com o espectador absolutamente incômoda. E isso não trazendo nada de novo, mas manipulando assertivamente os códigos manjados de um bom filme de terror.

Quando a conclusão vai se aproximando, talvez alguns estranhem a falta de soluções fáceis ou engenhosas. Mas é só lembrarmos que o filme é um vislumbre do pesadelo nosso de (nem tanto) cada dia. Isso quer dizer que A Bruxa nos envolve e nos intriga para no fim, acordamos assustados e sem encaixar totalmente o sentido do que provocou tamanho calafrio. Um experiência, no mínimo, interessante. E assustadora…

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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