Com o avanço da tecnologia, os computadores foram capazes de, pouco a pouco, substituir ilustradores e outros profissionais no mercado de animação, ainda mais com o advento de empresas como a Pixar ou a Dreamworks Animation, que realizaram verdadeiros clássicos modernos como “Toy Story” e “Shrek”, que conquistaram fãs em todo o mundo. Mas havia uma ramificação dos longas animados que poucos se aventuraram, em comparação a épocas passadas, que era aquela relacionada às animações voltadas exclusivamente aos adultos.
Percebendo isso, o ator e roteirista Seth Rogen, junto de seus parceiros Evan Goldberg e Jonah Hill, resolveu criar uma história totalmente anárquica, desbocada e inusitada num universo em que comida e objetos inanimados ganham vida e sentimentos. Assim, “Festa da Salsicha” (“Sausage Party”, 2016) surge como uma comédia que usa personagens fofinhos que não é, literalmente, para todos os gostos, e, embora não seja tão saborosa quanto deveria, não chega a ser totalmente intragável.
Ambientada num supermercado de uma grande cadeia, a trama se passa às vésperas do Dia da Independência dos Estados Unidos, comemorado em 4 de julho. Lá, todos os alimentos que são postos à venda acreditam que estão ali para ser escolhidos pelos Deuses (no caso, os humanos), que os levarão para o Paraíso. Entre eles, está Frank (dublado por Seth Rogen em inglês e Guilherme Briggs na versão em português), uma salsicha que convive bem com seus amigos entre eles Barry (Michael Cera/Gregório Duvivier), que sofre bullying por ter um tamanho menor do que as outras salsichas. O pacote de salsichas do qual Frank, Barry e outros acaba sendo comprado, mas um incidente acaba fazendo com que Frank acabe se separando do carrinho de compras.
Além dele, Brenda (Kristen Wiig), um pão de cachorro quente feminino também se separa de suas companheiras. Na tentativa de voltar para suas prateleiras, a dupla (que sempre teve uma grande tensão sexual) conhece outros departamentos, outras comidas e descobre a verdade sobre seus Deuses. Ao mesmo tempo, Barry passa por maus bocados quando vê o que os humanos realmente querem fazer com os alimentos e faz o possível para escapar de um trágico destino.
Embora tenha a mesma estrutura de “Toy Story”, onde os bonecos alienígenas de três olhos são substituídos pelos alimentos e A Garra dá lugar aos Deuses, “Festa da Salsicha” se destaca por não fazer concessões na hora de fazer piadas no desenrolar da sua história, embora nem todas funcionem a contento. Rogen e sua patota usam seus personagens fofinhos para gozar de assuntos como sexo, drogas, religião e até questões existenciais em pouco menos de uma hora e meia de duração.
Há momentos bem inspirados, como a criação de uma “Faixa de Gaza” que separa comidas judias, e palestinas em gôndolas diferentes numa mesma sessão do supermercado, que é para onde o pãozinho judeu Sammy e o pão árabe Lavash querem ir e são obrigados a fazerem uma jornada juntos, mesmo se estranhando o tempo todo, ou sequências que remetem a outros filmes, como “O Resgate do Soldado Ryan” ou “O Exterminador do Futuro” e o tenebroso momento que as comidas descobrem que serão devoradas, cortadas, picadas e trucidadas ao chegar ao prometido Paraíso.
No entanto, o roteiro (adaptado pelo pessoal do Porta dos Fundos para o português) se mostra mais preocupado em chocar e fazer seus personagens falarem palavrões o tempo todo, que acaba tornando a interessante ideia um pouco cansativa, a ponto de a capacidade de fazer rir ficar escassa, lá pelo meio da trama. Nem mesmo as piadas ligadas ao consumo de drogas (algo recorrente nos filmes estrelados e escritos por Rogen) chegam a funcionar a contento, deixando apenas um sorriso amarelo na boca do espectador.
Felizmente, o filme ganha um senhor fôlego na parte final e cria sequências inacreditáveis e inusitadas que justificam o rótulo de “animação para adultos”. Se algum pai desavisado levar o filho pequeno para ver o filme, mesmo com a censura elevada, terá problemas sérios para explicar as cenas bizarras que surgirão na tela.
No Brasil, o filme é dublado por boa parte do grupo Porta dos Fundos, como Duvivier, Fábio Porchat (que dubla o bolinho não-perecível Twix), Antonio Tabet (que faz a voz do Chiclete, uma alusão ao físico Stephen Hawking), Thati Lopes (a “Deusa” Camille Toh) e João Vicente de Castro (Tequila), além de dubladores profissionais, como o consagrado Guilherme Briggs, que realizam um bom trabalho. No entanto, o espectador brasileiro perderá a oportunidade de ouvir as vozes de astros como, além de Rogen, Wiig e Cera, Jonah Hill, Edward Norton, Salma Hayek, James Franco e Paul Rudd, que certamente deixam a experiência ainda mais hilariante para aqueles que abraçarem a bizarra proposta.
Na parte técnica, o curioso é ver nos créditos o nome de Alan Menken, vencedor de oito Oscars e responsável pela música de sucessos da Disney como“A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera” e “Alladin”, como um dos autores da trilha sonora.
“Festa da Salsicha” não se destaca por sua qualidade de animação, já que os movimentos de alguns personagens parecem duros demais em relação a outros trabalhos lançados este ano (provavelmente por causa do baixo orçamento de cerca de US$ 19 milhões). Mas os roteiristas, junto com os diretores Conrad Vernon e Greg Tiernan, procuraram contornar isso com muita incorreção política e um humor que, às vezes, soa infantil e imaturo demais (para a alegria dos seus detratores) e às vezes consegue ser bem original. Mas, no fim das contas, o filme é realmente do tipo “Ame-o ou deixe-o”, pois muita gente ficará ofendida com esta produção na mesma proporção de que haverá fãs deste projeto. De qualquer forma, é melhor deixar o sal de frutas ao seu alcance, pois nunca se sabe como o estômago pode reagir…Filme: Festa da Salsicha (Sausage Party)
Direção: Conrad Vernon e Greg Tiernan
Elenco: Seth Rogen, Kristen Wiig, Michael Cera, James Franco, Salma Hayek, Edward Norton (Vozes na versão original)
Gênero: Animação
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Sony Pictures
Classificação: 16 anos
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