“Joanne” (Interscope, 2016), o aguardado novo disco de Lady Gaga chegou ao mercado. No hiato de três anos desde seu último lançamento, ela cogitou encerrar a carreira (deixando os fãs preocupadíssimos), gravou o disco de standards do jazz com Tony Bennett, “Cheek To Cheek” mostrou seu lado atriz na série “American Horror Story” e roubou a cena no Oscar de 2015 interpretando “The Sound of Music”, canção-tema de “A Noviça Rebelde”, em homenagem aos 50 anos do filme. Mas todo mundo queria mesmo era saber o que ela estaria preparando no estúdio. Qual seria a cara de seu próximo lançamento? E a boa notícia é que esse quinto trabalho da maior estrela pop surgida no século XXI representa um passo à frente em sua carreira, ao contrário do acomodado e mediano ArtPop, de 2013.
As influências de Madonna e da dance music dos anos 1990 parecem ter perdido bastante do protagonismo frente às guitarras ao soul e até ao folk. Se a cantora ainda conserva alguma característica semelhante à sua inspiradora do início da carreira, é a capacidade de se reinventar, o que é bastante louvável. E o título do álbum, que é nada mais do que seu segundo nome (seu nome de batismo é Stefani Joanne Angelina Germanotta), é emblemático no sentido de que o conteúdo é seu eu transcrito em canções.
Nessa empreitada ela se cercou muito bem. Chamou o produtor Mark Ronson, que ganhou notoriedade por ter produzido outra grande diva deste início de século, Amy Winehouse. Além de produzir, Ronson ainda co-assina 10 das 13 faixas do disco com a cantora. Outros convidados de peso são Josh Homme do Queens Of The Stone Age e a britânica Florence Welch, do Florence + The Machine. O resultado é um ótimo disco pop, no sentido mais literal da palavra. E Lady Gaga sabe que ser pop não significa ser raso, banal. As duas primeiras faixas do disco, ‘Diamond Heart’ e ‘A-YO’ são bons exemplos.
A faixa título, como já é sugerido por levar seu nome, é uma canção bastante pessoal. No trecho em que ela canta “Honestly, I know where you’re goin’/And baby, you’re just movin’ on” (Honestamente, eu sei aonde você está indo/ e babe, você está seguindo em frente) está claramente falando dos rumos de sua carreira e amadurecimento. Em ‘John Wayne’ temos uma composição que remete aos primeiros trabalhos, adornada pela guitarra de Josh Homme (que também produz e assina a música, junto com Lady Gaga).
‘Perfect Illusion’, escolhida para ser o primeiro single de “Joanne”, também segue essa linha clássica facilmente indentificável para quem a acompanha desde o início. O dueto com Florence em ‘Hey Girl’ é um momento interessante do álbum. Uma parceria que deu muito certo e poderia até se repetir em um disco conjunto. ‘Just Another Day’, outro bom momento, flerta com o jazz, com o glam rock e a música pop orquestrada.
Fica evidente também que a cantora, que sempre mostrou um grande talento vocal, parece mesmo ter procurado evidenciá-lo, e, de fato, neste disco sua voz está soando melhor do que nunca. Até porque, desta vez, os arranjos estão ali para ressaltar o canto e pouco se vê intervenções para distorcer os vocais.
“Joanne” é o trabalho que legitima a maturidade artística alcançada por Lady Gaga. E aponta para um futuro brilhante. Pode não ser um trabalho revolucionário, transformador, mas é sem dúvida um dos melhores discos pop do ano.
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