Eis que os Rolling Stones foram mesmo a Cuba! Dezenas de milhares de cubanos e turistas fizeram fila por horas para entrar na Cidade dos Esportes, em Havana, espaço aberto com capacidade para 450 mil pessoas, para conferir a apresentação gratuita de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood. Para os defensores mais aguerridos da revolução de Fidel, o show dos Rolling Stones em Havana foi uma prova de que existe sim um mundo livre na ilha do caribe, e não uma ditadura bravia como defendem os críticos dos irmãos Castro. Já para os detratores do regime, em tese ditatorial, a interpretação foi de que houve uma rendição inevitável ao capitalismo, e que a força do regime imposto se arrefeceu.
A verdade é que o show da banda inglesa serviu mesmo para abrir mais uma parada para turnês internacionais, que não ocorriam muito mais por medos e dúvidas dos empresários das bandas sobre possibilidades técnicas (como no Brasil antes do Rock In Rio) do que por restrições impostas por um regime de governo.
Show de rock en Cuba sim, porque não? Em Cuba não houve, por exemplo, censura no setlist, como na primeira vez em que os Stones se apresentaram na China em 2006 e várias músicas tiveram de ser limadas do repertório, deixando o show até meio curtinho.
Uma coisa que colegas correspondentes notaram foi a quantidade de aparelhos de celular na plateia, contrariando a ideia que se tinha que em Cuba a tecnologia é de muito difícil acesso. E nem para dizer que se tratava de um público selecionado, pois a apresentação foi gratuita. Cuba não precisa dos Rolling Stones e nem de qualquer outra banda de fora do país. A música cubana é riquíssima e vai muito além do Buena Vista Social Club.
Diz-se que até 15 anos atrás a música pop anglo americana era proibida por ser considerada decadente e subversiva. Uma meia verdade, pois decadente sim, mas subversiva… Bem, há 15 anos o que dominava as paradas de sucesso no “mundo livre” (livre de que, cara pálida?) eram emos, niu metals e o declínio da era das boy bands. Se havia mesmo proibição a música pop internacional, digamos que tinha fundamento.
Outro motivo pelo qual não se pode dizer que o concerto marca um momento importante da rendição ao capitalismo combatido por anos por Fidel, é o fato de que o rock apesar de cooptado por uma indústria milionária é, antes de tudo, revolucionário, como foi o grupo que desceu a Sierra Maestra para adentrar Havana e derrubar a combalida ditadura de Fugencio Batista. Músicas dos Stones como ‘Street Figthing Man’, ‘I’m Free’, ‘Let It Loose’ combinariam perfeitamente como trilha sonora da revolução de 1959 que pôs fim ao paraíso americano que colocava a população em profunda miséria refém da corrupção, sem contar com uma versão informal de apartheid.
O repertório não mudou muito em relação ao que fora apresentado no Brasil. A música escolhida pela audiência foi ‘All Down The Line’, que aqui no Rio de Janeiro perdeu para ‘Like A Rolling Stone’. A reaproximação com os EUA e o show dos Rolling Stones em um intervalo de poucos dias foi definitivo para que turnês de grande porte façam escala na ilha caribenha.
Excluindo discussões sobre simbolismo a cerca do atual momento político do país, esse evento foi na verdade o Rock In Rio cubano, no sentido de ter sido show que os colocou no mapa. Certamente ainda levará um bom tempo para que que sejam parada obrigatória, como o Brasil de certa forma já se tornou.
Difícilmente veremos em breve um festival como o Lollapalooza por lá, com dezenas de bandas internacionais e talvez essa não seja uma prioridade por lá. Mas os holofotes que tiveram na última semana já foram um ótimo começo. E se engana quem possa achar que a poderosa industria estrangeira possa subjugar a cultura local, pois o país tem um forte histórico de resistência – vide a própria revolução e o período negro passado logo após a queda da União Soviética, sua principal aliada – e não há nada que ameace seu forte legado musical.
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