CríticasSéries

Entre erros e acertos, “Obi-Wan Kenobi” fecha com balanço positivo

Compartilhe
Compartilhe

“Obi-Wan Kenobi” seria um filme e acabou sendo uma série dentro do serviço de streaming da Disney, o Disney+. O plano de dominação da Casa do Mickey era reproduzir com Star Wars o bem-sucedido modelo de produção da Marvel. Filmes da saga regular se alternariam com histórias periféricas sob a marca A Star Wars Story. Com o fim da saga Skywalker, esses stand alone seriam interpolados com outras trilogias sem conexão com Luke, Vader e cia. Mas todos esses planos foram engavetados.

O projeto de spin-offs começou bem, com “Rogue One”, que teve boas críticas e excelente aceitação entre a fandom, mas fracassou com “Han Solo”, filme que amargou críticas negativas e deixou fãs (que já não estavam muito empolgados) bastante irritados. Juntando-se a isso a recepção divisiva dos dois últimos filmes da trilogia final da Saga Skywalker, a franquia Star Wars foi descontinuada no cinema, tendo o direcionamento voltado para o Disney+, seguindo a lógica do sucesso de The Mandalorian, que trazia consigo o fenômeno de merchandising chamado Baby Yoda.

Obi-Wan Kenobi chega precedido de duas ótimas temporadas de Mandaloriano e do razoável O Livro de Boba Fett. A expectativa era grande, afinal além de trazer Ewan McGregor de volta ao papel do Jedi, ainda teríamos mais um encontro com o vilão Darth Vader. O bônus é a presença de Hayden Christensen de volta ao papel de Anakin Skywalker e vestindo pela primeira vez a armadura de Darth Vader (em Star Wars: A Vingança dos Sith era um dublê).

Nostalgia é a ordem do dia. O que não é novidade quando o assunto é Star Wars. Mas aqui o foco é a Trilogia Prequel (os Episódios I, II e III), sobretudo A Vingança dos Sith, considerado pela geração mais nova de fãs como o melhor filme de toda a saga. Mas, claro, há acenos para a trilogia clássica.

Os dois primeiros episódios da série são introdutórios e apresentam as peças do tabuleiro. Foram lançados juntos no dia 27 de maio e podem ser encarados como um filme de 1h38 que ganhou continuação em uma minissérie. O curioso é que o plano de George Lucas para a continuação do filme original de 1977, caso não rendesse boa bilheteria, era continuar a história na TV. Os episódios que se sucedem desenvolvem a ação e aí começam os problemas.

A série apresenta boas cenas de ação, nos traz a alegria de rever Obi-Wan em ação mais uma vez. No entanto, a produção acaba caindo na armadilha (ou seria uma concepção intencional e preguiçosa) de criar um fio condutor para fan service como se apenas o afago na memória afetiva fosse suficiente para construir algo satisfatório para os fãs.

A falta de preocupação com a excelência vai desde a direção com pouco esmero de Deborah Chow, que até faz um bom trabalho nos primeiros dois episódios, mas nos seguintes comanda a história de forma randômica, até os efeitos especiais executados com uma displicência ofensiva à história de Star Wars que se iniciou com um filme que revolucionou os efeitos especiais.

Isso sem citar o roteiro que, apesar de apresentar uma estrutura correta, é eivado de conveniências e resoluções preguiçosas, que recorrem a situações já vistas na franquia, e muitas vezes gerando um incômodo atrito com o que havia sido estabelecido no cânone de George Lucas.

Ewan McGregor continua interpretando a versão mais jovem de Obi-Wan Kenobi com talento ao reproduzir alguns trejeitos de Alec Guiness, sem esquecer dos maneirismos de sua própria atuação na trilogia prequel, isso somado ao abatimento causado pelos traumas recentes.

A pequena Vivien Lyra Blair é graciosa e sua atuação como a “Pequena Leia” (com já é comumente chamada pelos fãs) é bastante convincente. Parece ter menos do que os dez anos que a personagem deveria ter na trama, assim como sua introdução na trama parece um pouco forçada e até certo ponto incongruente com o cânone.

Entre os vilões, o destaque vai para Moses Ingram, a intérprete da inquisidora Reva, a Terceira Irmã. Ela passa adequadamente a obstinação dos inquisidores e sua reviravolta é mostrada no tom correto. Hayden Christensen ocupa o lugar de David Prowse como o corpo de Darth Vader (enquanto James Earl Jones empresta a voz, como faz há 45 anos), mas vota a interpretar o jovem Anakin, devidamente rejuvenescido por CGI, e sua adorável canastrice ainda está lá.

“Obi-Wan Kenobi” não é a melhor série do Disney+. O título ainda pertence ao nosso querido Mando. O potencial da série é desperdiçado por uma direção burocrática e um roteiro muito mais preocupado com o apelo junto aos fãs do que em desenvolver a contento o drama de um Jedi exilado tendo que lidar com suas incertezas sobre o futuro da galáxia nas mãos do Império. Entre equívocos e acertos, o saldo foi positivo. Quem sabe na segunda temporada, se for de fato confirmada, os pequenos erros são ajustados?

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

Compartilhe

1 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos

“A Vingança de Cinderela” não se destaca na moda de contos de fada de terror

Nos anos 2010, espalhou-se uma tendência que pode ser vista até hoje...

Lanterna Verde deverá ter Josh Brolin como Hal Jordan

Nos últimos dias, um rumor tem agitado os fãs do universo DC:...

Novo trailer da série “Pinguim” promete ação e intriga em Gotham

A HBO Max lançou um novo trailer da série “Pinguim”, estrelada por...

Queda de audiência marca estreia da 2ª temporada de “Os Anéis de Poder”

A aguardada segunda temporada de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de...

Os Fantasmas Ainda Se Divertem se apoia em Michael Keaton para funcionar

Foram 36 anos de especulação sobre uma continuação de “Os Fantasmas Se...

Arcane revela trailer épico da 2ª Temporada

A Netflix e a Riot Games lançaram o tão aguardado trailer da...

Gakusei desu Let’s School

O reitor da nossa antiga escola vai sair de férias pelo mundo...

Coringa: Delírio a Dois é deprimente, monótono e arrastado

Nos anos 1970, Monty Python escreveu um esquete chamado Adventures of Ralph...