Um esquisitíssimo (e isso é um elogio) Murilo Benício é o dono de um restaurante que sofre um assalto num fim de expediente. No local ainda há clientes, quando dois bandidos anunciam a ação, e o susto do fato vai se tornando uma espécie de surto psicótico permeado por um verdadeiro banho de sangue. Gabriela se vale do extremo da situação para evocar a luta de classes, o preconceito e a discussão sobre a moral na sociedade, especialmente numa situação de luta pela sobrevivência. No restaurante estão os funcionários explorados pelo patrão (concentrando na figura de um chef trans vivido com muita dignidade por Irandhir Santos), um ex-policial aposentado sozinho (Ernâni Moraes) e um casal rico e arrogante (Camila Morgado, esplêndida e Jiddu Pinheiro), que destratam os funcionários e soltam impropérios sem autocensura.
Quando todos se veem encurralados, o roteiro vai individualizando suas questões para confronta-los na insanidade que a trama se torna. Luciana Paes está assombrosa como o braço direito do patrão, entregando uma cenas bem difíceis, mas irrepreensíveis quando sua personagem cresce mais que a expectativa dela. A diretora é muito sagaz ao ilustrar que a insanidade gráfica de seu filme é menos chocante que o que ele de fato reverbera.
Com uma fotografia precisa para esconder e mostrar destaques cênicos numa mesma cena, O Animal Cordial vai no limite de seus personagens em meio a esquartejamentos e pressões psicológicas, utilizados de maneira inteligente na discussão. E se prepare para discussões a cerca do filme.
Por mais que o filme não seja uma unanimidade, ele já é uma obra perene da jovem diretora, que diz muito sobre o talento dela em contextualizar a vida real através da bem vinda insanidade de sua mente criativa. FILMAÇO!!!
Cotação: Muito Bom
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