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“Star Wars: Os Últimos Jedi” ousa para dar um novo caminho para a franquia

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Quando foi lançado em 2015, “Star Wars: O Despertar da Força” foi bem sucedido em agradar grande parte dos fãs antigos, mas também em criar novos admiradores, principalmente por mesclar, na dose certa, o passado – representado por personagens já conhecidos e consagrados – com o futuro, que surgiu na forma de novos (e carismáticos) tipos. No entanto, a principal crítica que o público teve foi que a trama, no fim das contas, não acrescentava nada muito inovador e preferia ir por um caminho mais seguro ao reciclar situações icônicas dos filmes anteriores, embora até conseguisse ter um charme próprio. Mas a Disney, que comprou a Lucasfilm, não teve do que reclamar porque o sucesso absoluto de bilheteria que mostrava que a decisão de não se arriscar muito foi acertada. Os riscos ficaram guardados para a nova aventura, lançada dois anos depois.

Assim, com o jogo praticamente ganho, surge o mais que aguardado “Star Wars: Os Últimos Jedi” (“Star Wars: The Last Jedi”. 2017), que continua a saga espacial mais adorada do mundo (se bobear, da galáxia) com a já esperado apuro técnico que fascina todo o tipo de espectador, mas também vem com uma história mais elaborada, densa e cheia de reviravoltas que mudam a série de forma intensa e permanente, mas sem deixar o humor de lado nem os elementos que consagraram o universo criado por George Lucas há mais de 40 anos.

Na trama, Rey (Daisy Ridley) consegue, como mostrado no final de “O Despertar da Força”, encontrar Luke Skywalker (Mark Hamill) num planeta muito isolado e pede para ele ensiná-la a ser uma Jedi, além de ajudar a Resistência contra a Primeira Ordem. O veterano guerreiro, a princípio relutante, acaba aceitando ser seu mentor, embora ainda acredite que os Jedi deveriam acabar. Mas Rey começa a questionar seu papel nesta história após ter uma série de visões com Kylo Ren (Adam Driver), que continua como servo do Líder Snoke (Andy Serkis). Paralelo a isso, a Resistência, comandada pela General Leia Organa (Carrie Fisher), junto ao piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) e a Vice-Almirante Holdo (Laura Dern), tenta impedir que o exército da Primeira Ordem, liderado pelo General Hux (Domhnall Gleeson), consiga realizar um ataque definitivo para estabelecer seu poder na galáxia.

Embora possa parecer, traçando um paralelo com a trilogia original, “Star Wars: Os Últimos Jedi” não é uma versão mais vitaminada de “O Império Contra-Ataca”, o (ainda) melhor episódio da saga. O filme toma decisões drásticas para o destino de alguns personagens, mas ainda assim possui identidade própria, o que é algo louvável para quem achou que a nova leva de filmes se limitaria a recontar pontos da história que todos curtem, mas com uma roupagem diferente.

O mérito vai para o diretor e roteirista Rian Johnson, que não teve medo de pegar elementos considerados sagrados para os fãs e mexer com eles para levá-los a lugares que praticamente ninguém imaginou. Essa é a principal qualidade de todo o filme, de deixar o espectador espantado com o que está vendo na tela, algo inusitado, mas nunca inaceitável. Pelo menos para a maioria das pessoas, já que algumas coisas que acontecem podem, sim, dividir opiniões.

Além disso, Johnson (responsável por alguns dos episódios mais marcantes da série “Breaking Bad” e “Looper: Assassinos do Futuro”) mostra que tem domínio das cenas de ação e consegue criar excelentes sequências de batalhas interplanetárias, com destaque para a que abre o filme (onde há uma nítida inspiração nos kamikazes japoneses de II Guerra Mundial) e a que acontece na superfície de um planeta, que traz de volta a tensão causada pelo poderio militar superior dos vilões contra a pouco equipada armada dos mocinhos. Isso sem falar nos conflitos psicológicos envolvendo Luke, Rey e Kylo Ren, que são bastante ricos para revelar a sua humanidade (ou a falta dela), tornando-os ainda mais fascinantes.

Mas nem tudo são flores no filme. Embora tenha um começo e um final bastante empolgantes, a parte do meio tem alguns problemas que o impedem de ser perfeito. A trama envolvendo Finn (John Boyega), que volta à ação após os eventos de “O Despertar da Força”, e Rose (Kelly Marie Tran), sua nova parceira, num planeta cassino parece mal editada e o humor não funciona tão bem quanto deveria, mesmo com o auxílio luxuoso do simpático robô BB-8 (cada vez mais roubando a cena de seu colega “veterano” R2-D2). O resultado é que essas cenas não causam o efeito desejado por seus realizadores e parecem destoar do resto do filme.

Outro problema está no mau aproveitamento de alguns personagens, como Maz Kanata (Lupita Nyong’o) e até mesmo o wookie Chewbacca (Joonas Suotamo, substituindo Peter Mayhew), que só aparece para interagir mais com os Porgs, pequenas criaturas que estão na história para ter a mesma função dos Ewoks em “O Retorno de Jedi”: derreter os corações do público com sua fofura e fazê-los comprar brinquedos.

No numeroso elenco, o grande destaque vai, obviamente, para Mark Hamill, aqui muito mais ativo como Luke Skywalker. Vê-lo novamente como o personagem mais marcante de sua carreira é sempre um prazer, ainda mais agora, mais velho, mais maduro e mais sábio. Mas também mais triste e sofrido com as tragédias que sofreu durante os anos, especialmente a respeito de Kylo Ren, seu ex-aluno. Os momentos que divide com a saudosa Carrie Fisher (que mostra firmeza e liderança como a General Leia, o que nos faz lamentar ainda mais sua morte) são pura magia, especialmente para quem é fã incondicional da saga há muitos anos.

Daisy Ridley mostra novamente o quão carismática e boa atriz ela é, ao deixar críveis os conflitos de Rey ao perceber que, apesar de ter a Força, precisa de orientação para não fazer as coisas do modo errado, provando que merece ser a protagonista desta nova trilogia. Adam Driver também arrasa como Kylo Ren, faz uma boa dobradinha com Domhnall Gleeson e não deixa dúvidas de que o seu vilão é bem mais complexo do que muitos poderiam imaginar, tirando de vez a visão equivocada de que ele era apenas uma criança grande e mimada, ou uma pálida versão de Darth Vader, como chegaram a acusar em “O Despertar da Força”.

Entre os “novatos” na saga, quem se sobressai é a pouco conhecida Kelly Marie Tran, que se estabelece como Rose e faz uma boa parceria com John Boyega (que erra um pouquinho o tom de seu Finn). Laura Dern usa a sua já conhecida competência e simpatia para criar Holdo e tem bons momentos com Oscar Isaac (muito mais importante e participativo do que no filme anterior). Benicio Del Toro como DJ, infelizmente, não faz nada diferente do que já não tenha feito em papéis anteriores com sua já conhecida ambiguidade. Já Andy Serkis mostra novamente porque é o melhor ator para criar personagens em captura de movimentos e deixa Snoke como um vilão asqueroso e digno representante do legado deixado pelo Imperador Palpatine (vivido por Ian McDiarmid).

Apesar de algumas irregularidades, “Star Wars: Os Últimos Jedi” consegue ser realmente impactante pela forma encontrada para deixar a saga ainda mais empolgante e renova o fascínio gerado por muitas décadas desde a sua origem, graças aos novos caminhos que pode seguir a partir de agora. Resta saber como J.J. Abrams vai fazer para superar o que Rian Johnson fez aqui. O jeito é esperar até 2019, quando deve estrear o terceiro e último episódio desta nova trilogia. E torcer para que a Força esteja bastante intensa para ele. E sem midichlorians.

Filme: Star Wars: Os Últimos Jedi
Direção: Rian Johnson
Elenco: Mark Hamill, Daisy Ridley, Carrie Fisher
Gênero: Aventura/Ficção Científica
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Disney/Lucasfilm
Duração: 2h32
Classificação: 12 anos

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