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“Batman” coloca, enfim, o Batman em perspectiva

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Não foi por acaso que o virtuoso diretor Matt Reeves intitulou de The Batman sua adaptação do herói mais realista da DC Comics. Um simples artigo substancializa todo um novo sentido que ele traz para a nova oxigenação da franquia. Esqueça aqueles filmes baseados em HQs, que fetichiza a figura do vilão, confiando tanto na “marca” que o herói sempre se desenvolve como satélite. Reeves propõe que olhemos visceralmente apenas para seu indivíduo em seu meio.

Batman e Gotham City em perspectiva. Não me lembro de um filme do gênero que tanto mergulhou psico e dramaturgicamente na figura do herói protagonista. Tanto que a história já se inicia no ano 2 do morcego, onde sua relação com a cidade está mais estabelecida (mesmo enevoada) que com ele mesmo como a pessoa física Bruce Wayne.

Ainda que, diferente dos filmes anteriores, o lado “off máscara” dele pouco seja mostrado, a construção de inadequação humana de Wayne é meticulosa. Reeves, que já tinha demonstrado uma precisão na manipulação da tensão nos ótimos filmes da franquia Planeta dos Macacos, se vale da obscuridade como linguagem para denotar o conflito interno de Batman e como isso reverbera no seu chamado, mergulhado numa Gotham imbuída numa complexa rede de corrupção institucional.

A fotografia primorosa de Greig Fraser abarca esse olhar ao trabalhar a sombra tanto para reforçar os signos do herói (o potente aparecimento do batmóvel), quanto para simbolizar suas perturbações. A escolha do elenco é excepcional, tendo em Robert Pattinson o grande ápice do êxito do filme. Ele carrega em si ao mesmo tempo a pujança e a fragilidade que esse Wayne necessita.

 

Zoë Kravitz nasceu para ser a Mulher-Gato, e num filme tão cheio de personagens bem construídos, ela toma para si todas as cenas. Colin Farrell e Paul Dano, Pinguim e Charada, respectivamente, fazem o dificílimo trabalho de dar dimensão a seus papéis tão arquetípicos. A narrativa tem uma tensão e urgência que lembram muito o rigor da obra de David Fincher.

Há ecos no pessimismo de Chinatown e na incongruência urbana obsessiva dos filmes setentistas de Martin Scorsese.

 

The Batman é uma revisão de tudo o que se imaginou sobre seu universo até aqui. Comandado por uma visão muito corajosa de um diretor que acredita no Batman como protagonista da sua história, não apenas símbolo imagético dela. Para isso construiu um verdadeiro thriller policial sombrio em que Bruce Wayne muito mais do que herói, precisa se relativizar como mito.

Nota: Excelente 4,5 de 5 estrelas

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