Nos anos desde A Rede Social, muitos tentaram recriar aquela combinação vencedora de uma história de “como as coisas são feitas” e um drama humano extraído da vida real – um exemplo recente é o filme Dinheiro Fácil. O diretor Matt Johnson segue em grande parte esta mesma fórmula em “BlackBerry”, mas a imbui o filme com charme e um toque cômico.
Baseado no livro Losing The Signal, de Jacquie McNish e Sean Silcoff, o filme segue Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Doug Fregin (Johnson), os desalinhados co-fundadores da Research In Motion, cujos designs tecnológicos inovadores são mal atendidos pela falta de público e habilidades enfrentadas. Entra Jim Balsillie (Glenn Howerton), um empresário cruel e valentão que promete transformar sonhos em ouro. Juntos, o protótipo do smartphone se torna o BlackBerry – que em determinado momento de sua curta vida representou 45% do mercado de celulares.
Baruchel, cuja carreira o viu interpretar azarões nervosos, usa o terno mal ajustado de Mike como uma luva, enquanto Johnson salta ao redor dele como um labrador espirituoso e com bandana na cabeça, todo leal, mas sem conhecimento de negócios. No entanto, Howerton é o curinga magnético e aterrorizante do filme. Não tanto mastigando o cenário, mas rasgando-o com seus incisivos, como um lobo raivoso, o ator – que afiou sua malícia de olhos de aço na sitcom It’s Always Sunny In Philadelphia – é uma revelação aqui. Uma bola de raiva apertada e energizada, que ocasionalmente e deliciosamente explode na tela, nos presenteando com cenas carregadas de maldição, tão violentas e cruas que fariam Joe Pesci murchar.
Johnson captura o estilo desastroso e dinâmico de mockumentary do trio, que dá ao filme uma aparência datada que ocasionalmente vai contra uma história sobre avanços tecnológicos e desvia a atenção de seus golpes emocionais fugazes, mas impactantes. No entanto, essa abordagem no estilo atua como um lembrete constante de que BlackBerry é, no fundo, uma comédia, não um drama engenhoso.
Quem viveu a época sabe que domínio do BlackBerry não durou. E no acto final, que se passa em 2007, Mike rejeita com confiança a apresentação televisiva em que Steve Jobs anuncia o iPhone, sendo a sua negação um sinal revelador de que o sucesso afrouxou o seu controle sobre a realidade. Baruchel consegue flexionar alguns músculos diferentes aqui, seus maneirismos ansiosos se transformando em impaciência e desespero. Pode não ser A Rede Social, mas é exatamente nesse tipo de queda humana, interpretada por atores cômicos brilhantes, que o filme BlackBerry apresenta.
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