A viola sempre esteve ligada ao Boca Livre. Mesmo sendo um grupo vocal, o instrumento faz parte de muitas letras e tem destaque em todos os arranjos gravados pela banda. “Viola de Bem Querer”, o 13º álbum do grupo comemora os mais de 40 anos de carreira e mostra que ainda há esperança para a MPB.
— Eu devia ganhar mais que o Zé, o Lourenço e o Mauricio (os outros integrantes do Boca Livre). Afinal, sou eu quem toca a viola e ainda por cima ela tem mais cordas que os instrumentos dos outros. Mas eles não aceitam isso —brinca David Tygel, o homem que, literalmente, tem a viola.
Boca Livre volta em grande estilo
Depois de seis anos sem um álbum de estúdio (o último registro foi no bom Amizade (2013) o Boca Livre — David Tygel (voz e viola de 10), Lourenço Baeta (voz, violão e flauta), Mauricio Maestro (voz e baixo) e Zé Renato (voz e violão) — retorna com um trabalho de altíssima qualidade, que remete aos melhores discos da sua carreira.
As semelhanças entre o novo trabalho e (principalmente) os dois primeiros álbuns — “Boca Livre” (1979) e “Bicicleta” (1980) são muitas. Desde o acerto na escolha do repertório até o enxuto número de faixas, que não dá espaço para exageros desnecessários.
— Fizemos um processo semelhante ao do primeiro disco. Antes de gravar a gente cantava as músicas nos shows e ensaios. Várias canções desse disco foram executadas em shows que fizemos nos últimos dois anos — explica Zé Renato, a voz mais aguda do grupo.
Viola em destaque
Todo brasileiro que conhece um pouco da obra do Boca Livre (re)conhece sucessos como Quem Tem a Viola e Toada, onde, além dos belos vocais, o instrumento reina nos arranjos. Apesar de, segundo seus membros, o tema não ter sido escolhido conscientemente, fica evidente o seu destaque no novo trabalho.
— Falar sobre a viola foi algo que aconteceu naturalmente. Começou com a comemoração dos 40 anos de carreira, no ano passado, e quando tocamos a “Viola de Bem Querer” (Paulo Cesar Pinheiro e Breno Ruiz), começamos a achar que essa palavra, a viola, tem muita importância na trajetória do Boca Livre. Ela simboliza a sonoridade acústica, além de estar presente em várias das nossas músicas — revela Zé Renato.
O instrumento e mesmo o protagonista e brilha em canções como Santa Marina e Um Violeiro Toca, para citar apenas duas.
— Toco a viola de dez cordas com uma afinação diferente, para que ela converse melhor com os outros instrumentos, mas sem perder a sua sonoridade característica. A viola não é um instrumento fácil, mas a sua personalidade é parte importante do nosso som — diz David, sobre a sua companheira de palco.
Destaques
São muitos os destaques de “Viola de Bem Querer”. O cuidado na escolha das nove canções que fazem parte do trabalho dá poucas chances para críticas que não sejam positivas. Claro que há momentos que tocam mais uns do que outros, mas isso fica por conta do gosto pessoal de cada um.
Há samba, cantiga e até algum toque caipira, mas nunca perdendo a identidade que fez do Boca Livre um dos maiores grupos vocais da história da nossa música. E, desse novo trabalho, já são candidatos a clássicos números como a faixa-título, ‘Noite’ e a releitura da belíssima ‘Amor de Índio’.
Um Boca Livre de muitos resgates
Como disse, “Viola de Bem Querer” está entre os melhores trabalhos do quarteto carioca. Ele perde um pouco apenas por conta do grande número de canções resgatadas de outros projetos.
A já citada Noite, parceria de Zé Renato e Joyce, um dos destaques do álbum, foi lançada ano passado no (também) ótimo disco solo de Zé Renato, “Bebedouro”. Outro resgate que merece destaque é o da canção ‘Santa Marina’ (Lourenço Baeta e Cacaso), que foi lançada em 1979, no disco solo do vocalista.
Claro que a canção-título, de autoria de Breno Ruiz e Paulo Cesar Pinheiro, e ‘Amor de Índio’ fazem parte de um rol de clássicos que devem acompanhar o grupo pelo resto de sua carreira, mas fica a sensação de que falta um pouco de novidades nesse trabalho.
Só por isso o lançamento não recebe a nota máxima, mas chega bem perto.
Lançamento
Viola de Bem Querer terá sua noite de autógrafos nesta terça-feira (9), na livraria Blooks, no espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Fotos: Léo Aversa
Comente!