Os carrões, as festas, os amores ingênuos e as paixões arrebatadoras estão lá. Mas “O futuro pertence à… Jovem Guarda”, novo álbum de Erasmo “Gigante Gentil” Carlos, mira no futuro, sem saudosismos.
O Tremendão tomou para si a responsabilidade de mostrar aos jovens as canções da Jovem Guarda, mas com uma linguagem que aqueles que não viveram os anos 1960 (e até quem viveu) vão entender como contemporânea.
Podia ser maior
As econômicas oito faixas do álbum trazem guitarras, cordas, sintetizadores e vocais de apoio que se encaixam em qualquer playlist radiofônica ou trilha sonora de novela do horário nobre.
Com uma banda “jovem”, mas que acompanha Erasmo faz muitos anos — Zé Lourenço (pianos e teclados), Rike Frainer (bateria) e os irmãos Luiz Lopes (violões, guitarras e backing vocals) e Pedro Dias (baixo e backing vocals) e Pedro Baby (guitarra) — o álbum soa realmente “novo”.
O principal problema do disco é ter apenas oito faixas.
Erasmo, é pouco demais!
Hendrix, McCartney e grupos vocais
Logo na faixa de abertura “Nasci para Chorar” — versão da canção “(I Was) Born to Cry” (Dion DiMucci), escrita por Erasmo em 1964 — fica evidente uma sonoridade que lembra Jimi Hendrix e Paul McCartney.
Além das guitarras, há um naipe de metais que levam a composição para um universo muito diferente da versão original. Para usar uma palavra da moda: a nova gravação veio do “multiverso”.
Essa primeira impressão segue por praticamente todo o álbum. Mesmo as baladas mais conhecidas (“Ritmo da Chuva” e “Alguém na Multidão”) ganharam registros onde, principalmente, os vocais de apoio fazem toda a diferença.
Vindo originalmente de um grupo vocal (“The Snakes”, que também contava com um tal Tim Maia), Erasmo fez questão de dar destaque aos backings dos irmãos Lopes.
A gravação que guarda mais (mas não muita) relação com a original é, provavelmente, “O Tijolinho” (escrita por Wagner Benatti e lançada por Bobby de Carlo, em 1966). A canção, ícone do amor inocente que marcou a Jovem Guarda, segue leve e alegre, com um arranjo para agradar os mais jovens e os mais velhos. Uma boa sacada.
Erasmo: um jovem com 80 e em plena forma
Com 80 anos completados em 5 de junho do ano passado, Erasmo Carlos é mais um exemplo daqueles artistas veteranos que dão um banho de vitalidade em muitos “garotões” e “garotonas”.
Ele poderia estar curtindo os louros dos sucessos alcançados (e são muito sucessos), mas, desde 2009, vem brindando o público com uma série de trabalhos que estão entre os melhores de sua carreira.
Quem está descobrindo a obra de Erasmo agora, nos anos 2020, não pode deixar de ouvir álbuns clássicos como “A Banda dos Contentes” (1974), “Rock ‘n’ Roll” (2009), “Meus Lados B” (2015) e esse ótimo “O futuro pertence à… Jovem Guarda”.
É para virar fã de carteirinha.
Fotos: Marcelo Curia
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