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"Lazarus": Greg Rucka e seu cenário distópico – resenhando o primeiro volume

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Um mundo dividido não mais por fronteiras políticas ou geográficas, mas demarcadas pelo poder financeiro. Essa é a premissa que a ficção Lazarus traz, uma realidade que se assemelha em muito com o mundo que se desenvolve na atualidade. O poder está na mãos de apenas algumas famílias, aqueles que fornecem os serviços são considerados servos e o restante, grande maioria, refugos. Para proteger cada Família, além de suas maquinações e do desejo de poder de outras, há uma pessoa que recebe tudo que pode ser oferecido em esforços econômicos, tecnológicos e científicos, incluindo implantes com melhorias físicas e treinamento necessário para se tornar um defensor e arma final. E são conhecidos como Lazarus, e o lançamento da Devir traz a história de um deles, Forever Carlyle .

Se há algo que se destaca acima de tudo na carreira de Greg Rucka, é a quantidade de personagens femininos, cuja essência empoderada traz perfis bastante complexos e fortes, como foi que fez com Sasha Bordeaux, guarda-costas de Bruce Wayne (Detective Comics, Batman, Checkmate), Katherine Kane (a Batwoman) e a sua Mulher-Maravilha (confiram resenha aqui). Era impossível, então, encontrar em seu novo trabalho, Lazarus: volume um, uma situação diferente.

Forever, ou Eva, como seu pai o chama carinhosamente, é a Lazarus da família Carlyle. Rucka, mais uma vez, apresenta uma personagem que se configura como uma mulher real, longe do que encontramos muitas vezes no gênero das HQs de super-herói: Forever tem uma força incomum graças aos implantes tecnológicos, e com a agilidade resultante de sua dedicação ao seu treinamento, temos o seu retrato, literário e gráfico, uma mulher que exerce o seu corpo, sexy mas atlética, de forma realista. É atraente, mas não é uma história de afirmação sexual, deixando claro desde o início, para aqueles que buscam um”incentivo” em uma narrativa gráfica que tem uma mulher como protagonista que não encontraremos nada neste estilo.  Temos bastante violência cinematográfica para ser mais exato, vide booktrailer da editora:

Neste primeiro arco de história, então, estamos num cenário pós-apocalíptico, onde a situação deriva de uma catástrofe que parece com a atual crise econômica, que acarretou na acumulação de poder que os países conferiram a agentes financeiros e econômicos que tiraram da situação insustentável que estavam. Esse 1% é o responsável pela fase atual do mundo, passou a acumular ainda mais poder, controlando todo o planeta como “clãs” ou “famílias “, dividindo os territórios como fatias de bolo, fazendo o que tiverem vontade com seus habitantes.

Assim, Rucka e Michael Lark nos apresentam uma nova distopia (ou mesmo uma ucronia, devido à proximidade das datas em que a trama se desdobra e as semelhanças com a crise que explodiu em 200, meio que noir com um estilo super-heroico e tendo como ingredientes os avanços tecnológicos do mundo real, para uma plausibilidade narrativa sci-fi. O resultado, embora seja completamente satisfatório, não oferece nada de convencional ou desenvolvimento ou resultado, um primeiro arco que é uma mera apresentação do que vai trazer Lazarus.

Finalmente, temos que dedicar um parágrafo para o trabalho solo de Michael Lark, desenhista cuja carreira é bem conhecida, por sua imensa obra em séries noir e policiais (Crime Scene, Daredevil, Gotham Central), como também amostras de sua linha particular, em ficção científica (Terminal City) e super-heroico (Superman: A guerra dos mundos).

Aqui move sua arte em um espectro que interpretará todos esses temas, tão familiares, com seu traço bem conhecido, oscilando entre o tom forte e o tênue, com o seu manejo das sombras e enquadramento cinematográfico, diante de uma marca narrativa demasiadamente estática. Também destacamos o design dos personagens, que estão bem  atraentes para um trabalho que frequentemente é abordado os problemas do estilo noir, mas que Michael Lark brinca brilhantemente em meio ao escuro do traço e a violência da personagem.

Lazarus foi indicada ao Prêmio Eisner de Melhor Nova Série em 2014. Em 2017, a Legendary Pictures e a Matt Tolmach Productions adquiriram os direitos para produzir uma série de Lazarus para a plataforma Amazon Prime . O cocriador da série, Greg Rucka, está diretamente ligado ao projeto, mas ainda não há previsão de lançamento.
Em suma, um trabalho com dois grandes nomes da indústria, que trazem um título que explorará as consequências dos atos da família Carlyle, ou as possibilidades de um mundo onde a maioria das pessoas no mundo sobrevivem em favelas das migalhas dos poderosos. Não trataremos mais sobre o roteiro, pois com certeza, gerará spoilers, o que não é nosso intuito. O que podemos dizer é que há muitos caminhos a seguir, e o próximo arco já parece ser bastante interessante, pois será sobre o passado de Eve. Então vamos esperar pelo o outro volume para ver o que Rucka e Lark nos oferecerão.

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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