Se para cada lugar houvesse um pincel para uma certa pincelada. Do bom prosador queremos o matiz do contorno ou do rosto, a camada de subjetividade com alguma palheta de cor adornando, pois pintar não é enfeite. Faz parte da natureza ter seus relevos, aqui não cito acidentes, mas os contornos que dão “vida” a uma obra ou história.
Lygia Roncel traz da sua experiência como jornalista e revisora a nuance do detalhe. Prefere não se ater à trama basicamente com uma ação transcursiva que tem uma certa linha ou direção. No seu livro de contos A solidão faz festa, editado pela Patuá, a riqueza da descrição do detalhe em torno de pequenas ações silvestres ou poéticas que dão o tom e o tema à coletânea de contos.
Seu rico olhar para a observação chama bastante atenção, não se trata de florear um percurso narrativo. Toda a sua relação com a autoria de um texto é esmiuçar com um rico vocabulário a costura poética de uma relação espacial com o interior e o campo, a variedade de tropos ou eventos, até fábulas que podem surgir de vivência dos personagens com o entorno natural.
Há uma interessante interação de sua escrita com a pintura. Pois como realçar uma cor? Um certo detalhe de ação? Há na cor uma justaposição de foco entre escolher qual cor será postada na aparência (frente) do quadro ou na sua profundidade. Ao adotar o personagem como foco, Lygia escolhe uma certa posição de não movimento de uma ação que empurra os personagens a um fim.
A temporalidade de Lygia é o instante que aquele fato ou aquela epifania acontece deixando a personagem matizada de beleza. Sempre vivi no interior. E lá as personagens estão afeitas às miudezas do dia, do cotidiano. Há em certas lugares um teor para o microevento com suas sutilezas & poesias.
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