O ato de encaixar revela um ditame misterioso. Não sabemos que peça que temos nas mãos irá fazer parte do mosaico. Ela está só, mas ao mesmo tempo conectada com outras que viram se somar à seu espaço. Um chamado quebra cabeça. Que pela semântica, não tem nada de ruptura da cabeça com o resto do organismo. Corpo vivo. Temos a noção do espaço quando olhamos um mosaico sendo montado, a clareza da imagem que as peças vão se revelando nos dá percepção do todo.
Isto me lembra do processo de narrativa do escritor Rodrigo Maceira. Ao ler seus contos Até de repente pela Editora Oito e meio, quando fui leiturando o livro na sua medida, quando os contos iam se interpenetrando com ideias, referências, estilo, muito coeso de escreve-los, e uma música danada de bonita de estilizá-los sem qualquer tipo de presunção. Cada conto ia me lembrando de peças-eventos que são cognições que vão somando num todo que depois perfazerá uma obra, um conceito, uma estética.
Contos como ‘Deus vai te Derrubar’, com sua anti-presunção de conhecimento. Com a forma que este mesmo valor que damos às informações que recolhemos estão polenizadas pelo olhar do afeto ao outro, em sua forma de adversidade mas também de singularidade, que o olhar é mútuo quando indentificado como fraterno.
‘Book Lovers’ faz uma perfomance inteiramente lúdica, onde os produtores de leitura são os mesmos elos da cadeia produtiva como a divulgação, talvez entender o como somos preguiçosos em motivar o gênero livro. As interrelações na produção de semântica livresca, ela pode e deve ser cooperativista, criando jogos de dança, e de propagação do conteúdo narrativo. Só na estrutura você mexe nas relações de um produto, palavra horrível, mas o livro enquanto obra exposta, haverá jeitos de escarafunchá-los? para que círcule mais dionisicamente.
O último conto ‘Até de repente’ me vem à cabeça, uma peça “avulsa” de linguagem, mas que rearruma as relações sociais tornando-as mais cordiais. A forma como saímos ou entramos numa interação, talvez seja o que nos define mais quanto o que somos de carnadura ao outro. Lembro daquelas situações de fastio quando um sujeito está doido para ir embora. A linguagem torna-se assustadoramente embaraçosa, nunca para quem vai, e sim para quem fica.
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