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Livro de contos “Morri por Educação” bota fé em narrações visuais e agraciadas em bom humor

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Sempre achei bem interessante o dito popular “reza a lenda”. Um casamento e tanto de uma fé em uma ordem superior de um grupo de orações que comungam com o Espírito Santo com uma veia de história que nunca ninguém sabe da onde veio. E como surgiu? É como ter fé numa história intransmissível que não passa de Pai para filho.

A graça é algo que chega assim meio sem lógica, sem qualquer explicação. E a pessoa é agraciada por algo que ela nem sabe o porquê. Mas a desgraça é sua parente, ovelha negra, que chega sem avisar, embora haja uma certa áurea mística pairando sobre ela.
Outro dito: “desgraça pouca é bobagem”. Algo sarcástico, que remete ao caso em relação aos infortúnios que ela carrega.

Contos são um bicho de pouca fé. Não acreditam em nada, ao não ser na sua verve autorregulatória onde o espaço é o controle de qualidade. Ao contrário da fé onde não requer espaço, o conto tem corpo e não requer espírito à não ser o que narra.

Por isso contos costumam ser desgraçados, ou até quem sabe agraciados. É o caso do livro da escritora Nathalie Lourenço que escreveu 17 contos bem desgraçados no livro “Morri por Educação”, pela Editora Oito e meio. São narrações onde o avesso é bem mais operante nesta dicotomia visão entre o bem e o mal, entre a lógica de um mundo bem organizado e limpo com as impurezas do detrito ou do seu primo, atrito.

E nesta lasca de estar lascado ou desgraçado, ou de uma faísca que solta o gatilho para o conflito que gera boas histórias, pois o livro da autora está cheio delas. Com uma veia malemolente, que não é mole e que espicaça num humor versátil, as histórias bem diversas em seus motes e conteúdos. Trazem o lado b das relações e cotidianos ou do mundo da arte ou fatalidade do destino.

Gostei especialmente com a autora equilibra a linguagem coloquial e frenética com um eficaz olhar sobre os desajustes da ordem ou normalidade processual. Me vi pensando naquela beirada de estrada que delineia a margem do que caminhamos como estrada, a ribanceira. Lugar de subir em outros campos, de nomear o perigo o lugar não pisável. Tal como se colocar à margem do plano e se inclinar para o perigo que é escrever, ainda mais neste gênero do conto onde não há mais atalhos.

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