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Livro “Lembranças do sítio” fala da memória do tempo, corrente(za)

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Dizia minha avó que relógio em tempo de fazenda desaprende a tic taquear. Porque o pendulo na fazenda é um belo exercício moral e estético. O tempo na cidade urge-urbe. Todos maquitolados em despesas e presas. São escravos da numeração digital, pois o pendulo, estes só se encontram nos sítios e fazendas.

A memória também é um pendulo, sua batida é do coração, este pendulo que bate sem sair do lugar. A escritora Mazé Torquato Chotil em seu livro, uma novela chamada “Lembranças do sítio”, pela ADC editora, cria uma poética cantiga da vida no campo, onde o cotidiano é uma forma pastoril de novelo do ir fazendo: ações sem custeio, mas com a teia do aferendar, dá comida aos porcos, ou galinhas, buscar leite toda manhã cedinho, um prazenteiro oferendar ao tempo sem escolta, de uma manhã que tece outras manu(faturas) onde o pé é de caminhada, e não de localização e endereço.

Sua escrita é límpida e afeiçosa, sua prosa obedece as linhas gerais de Minas de bom elementos das estradas dos Campos lindos, onde estilo não é versificar, mas sim, intensificar a duração do dia, com seus elementos naturais de tratar as vacas, de ver a plantação. As relações entre mãe e filha e entre pai e filho são alinhadas com o tempo da colheita , com os ritmos dos pastos que crescem no tempo silêncioso do ano.  Há no texto como na ação que trascorre tranquila e fluída, uma leve ode ao corpo natural, não este que usamos, para uma espécie de deslocamento, onde quase virá a ser signo de via de desvio, de navio que zarpa sem saber quanto tempo vai ficar no mar.

O tempo na história de Mazé, não é circular, nem agônico, é um fluir de água numa fonte, num rio, num riacho, quem já ficou defronte a eles sabe que o tempo que ficas ali, é feito sobre as leis da memória.

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