O beijo de língua de uma certa forma ultrapassa a afetividade ao outro. A língua passa do afeto a um certo erotismo. A língua dentro da sua boca, leitor, articula as palavras para o som junto com aparelho da produção da fala, laringe e cordas vocais produzirem e articularem as palavras. Enquanto o beijo se encontra na afetividade, a língua já se encontra na expressividade (estilo) Ela seria uma espécie de carteiro ou mensageiro, dizendo as motivações do recado, ela seria o conteúdo da carta que o destinatário leria?
No livro “Palavras são de comer”, temos nos contos da Myriam Capello pela Editora Oito e meio, contos que usam a linguagem não pura e simplesmente. A linguagem formaliza o conto. O beijo em si podemos dizer que está na própria ação do narrar. Naquilo que pulsa com algum tipo de arrebatamento.
Myriam conta seus contos de uma forma a expressar uma reação ao leitor, mas não é uma reação qualquer. São contos que ela trabalha a linguagem do beijo parturiente, principalmente nos contos do Interregno Bíblico, onde através de um humor de língua, afiada, desconstrói mitos fundadores da literatura cristã. Bíblia. O olhar da autora faz da sua escrita; um coito na linguagem onde o normativo se põe enviesado. O lado dos personagens bíblicos são postos à prova do fato, sim é melhor falar da tatuagem, da total liberdade de contrariar verdades clonadas por leituras dogmáticas.
Sua língua é do desejo de olhar atentamente as classificações gênero -normativas, destipificar o caráter limitante da altura do nome, quem sois, eu? E para isso utiliza todo repertório erótico da linguagem, na linha ondulada, do riso do humor, da sisudez da própria maneira de uso da linguagem. Myriam não pode ser classificada em seu humor, não vejo nem sátiras nem ironias. É a maneira personalíssima de ver a bio – diversidade refletindo sobre o conservadorismo paroquial- do- quintal- das- classes médias formadoras de opinião? Neste sentido o conto, conto de natal com rena, (achei-o genial). Ali se conserva um espírito iconoclasta com a linhagem: uma espécie de paródia do pensamento pequeno-burguês com relação a patrimônios\heranças\dinastias- e toda a suprema forma narcísica do papel-moeda.
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