Livro ‘Veracidade’ poetisa o amor narrativo.

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Um baú de guardados. O corpo retém o vivido, como o copo detém o bebido do amor. Beber é ingerir líquidos. Amores liqui(da)dos? Uma forma de enjaular as memórias,  retê-las escrevendo. O narrador parece que retoma uma oratória com veia de histórias com Clarissa, uma moça por quem ele nutriu sentimentos profundos de admiração e amor.

No livro Veracidade, da autora Isabella de Andrade, pela Editora Patuá, desenvolve uma narração de um jovem que se aproxima de uma carta, mas que pode estar num outro gênero do narrar, pois o texto em si não obedece a um padrão informativo. A autora (des) referencializa o conteúdo que o narrador possa estar emitindo a Clarissa. O lindo processo do livro está em matizar todo texto narrativo em linguagem poética, belíssima por sinal, quebrando uma localização espacial de quem seriam o emissor e o receptor fixos.

Ali estão os sentimentos do rapaz, que questiona agora uma possível ausência do outro. Uma pacificação do seu ser amoroso ao objeto amado. O que nos faz ver que a linguagem é o espaço em que não se apresentam fórmulas certas, endereçadas a quê? De que a estrutura narrativa (a linguagem) se molda enquanto sua razão de ser para depois fazer uma provável formulação. A comunicação está, assim, desvinculada do caráter emissário para se tornar um meio de temperanças, de nuances dos sentimentos. Mesmo quando Clarissa responde, não temos nenhuma certeza que esta sua narração esteja indo em direção a quem lhe narrou também. A poética é um jeito do amor-narrativo já quando passou pela experiência em (baú) manter na memória.

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