Minissérie “Irracional” é um thriller com toques de modernidade

Um astro em ascensão, com duas indicações consecutivas ao Oscar de Melhor Ator; talentoso e estiloso: este é Colman Domingo. Atuando desde finais dos anos 90, já esteve em mais de 60 produções para cinema e TV, incluindo episódios de “Euforia”, série que lhe garantiu um Emmy. Depois de mais de cem episódios de “Fear the Walking Dead”, estava mais do que na hora de Domingo ser protagonista também na televisão. E essa oportunidade veio com a minissérie “Irracional” da Netflix.

Muncie Daniels (Colman Domingo) é um escritor e apresentador de TV que vai para uma cabana isolada nas montanhas Poconos, desejando focar em escrever seu novo livro. Quando sua cabana fica sem energia, ele vai até o vizinho mais próximo e encontra-o esquartejado. Os assassinos ainda estão por lá, e o perseguem pela floresta. Ele consegue escapar e vai até a polícia, mas os policiais não acreditam em sua história. A situação se torna mais difícil quando a vítima é identificada como Mark Simon, um supremacista branco famoso.

Não demora para que sejam envolvidos os filhos de Muncie, Kallie (Gabrielle Graham) e Demetrius (Thaddeus J. Mixson), e Elena (Marsha Stephanie Blake), de quem o escritor está se divorciando. Sem apoio da polícia, de seus advogados e de seus empregadores, Muncie decide investigar por conta própria, o que gera muito suspense.

O envolvimento com o crime parece ser hereditário para Muncie: seu pai pegou prisão perpétua após matar um homem branco que praticava “redlining”, isto é, uma atitude racista na qual serviços financeiros são negados a vizinhanças com alta concentração de pessoas negras, pardas ou latinas. Ao tentar solucionar o problema fazendo justiça com as próprias mãos, o pai de Muncie criou um novo problema, que respinga no filho.

Numa ocasião, Muncie ouve que a polícia está atrás dele porque o homem morto era “um deles”, criando um vínculo entre supremacistas brancos e a polícia. É algo que vai além do discurso “All cops are bastards”, e com razão: desde o caso de George Floyd muito foi escrito e comentado sobre a relação entre membros das forças policiais e a supremacia branca. Não se trata de casos isolados: é uma epidemia. E aqui entra em ação a “teoria da ferradura”, que diz que os extremos políticos são iguais. A minissérie coloca no mesmo barco fascistas e a ANTIFA, o que não deixa de ser um discurso perigoso

Alguns subtemas interessantes poderiam ter sido mais bem explorados, como o ato de misoginia quando um homem tenta se livrar de acusações chamando uma mulher de “desiludida e desequilibrada”, bem como o fato das novas gerações se sentirem frustradas com o mundo, desejando mais ação e menos diálogo. E havia tempo para esses temas serem desenvolvidos: a minissérie tem oito episódios que não se justificam, pois a sensação geral é que ela poderia ter sido um filme.

THE MADNESS. Colman Domingo as Muncie Daniels in Episode 101 of The Madness. Cr. AMANDA MATLOVICH/Netflix © 2024

Mesmo com sua característica cara de assombro, com a boca semiaberta, usada à exaustão durante a minissérie, Colman Domingo segurou bem o papel, consolidando-se assim como um dos atores mais incríveis da sua geração. Mal podemos esperar pelo que vem a seguir numa carreira que já acumula sucessos.

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