A Panini lançou recentemente Noite de Trevas: Uma historia real de Batman (Dark Night A True Batman Story), uma obra publicada em 2016 pela DC Comics sob o selo Vertigo, e que conta com boas críticas na imprensa dos EUA. Vamos analisar e responder se é para tanto? Aviso logo que sim.
A sinopse já mostra o que encontraremos: Batman vai ajudar um homem desencorajado a recuperar de um ataque brutal que o deixou incapaz de enfrentar o mundo. Nos anos 90, o premiado escritor Paul Dini estava no auge da sua carreira com a popular série Batman: The Animated Series. Uma noite, a caminho de casa, foi assaltado e fortemente espancado, ficando às portas da morte. A recuperação foi lenta e complicada, e Dini imaginou que o Batman sempre esteve ao seu lado, mesmos nos momentos mais difíceis.
Antes de começar esta análise, é bom lembrar que, apesar do título, Noite de Trevas não é uma história de Batman. É uma história autobiográfica de uma tortuosa e complicada fase da vida de Paul Dini, que conhecemos por seu trabalho pelas diferentes séries animada de Batman dos anos 1990, por escrever os games Batman Arkham Asylum e Arkham City, por ser o cocriador de Harley Quinn com Bruce Timm, e por quadrinhos como Amor Louco (premiada com o Eisner) , entre outras muitas obras. E se alguém procura uma história sobre o homem morcego guiado pela capa belíssima e o título, fique ciente que tem em mãos uma obra muito diferente em todos os sentidos.
Sobre o argumento, podemos dizer que a narrativa é uma meta-história, com um Paul Dini no presente apresentando sua infância de forma muito breve, e dando um salto para a época da Warner Bros Animation nos anos 1990, quando já era um roteirista conhecido por seu trabalho em Tiny Toons e na série animada do Batman, ganhando vários Emmy. Foi então que Paul recebeu uma tremenda surra na rua por dois caras que literalmente quebraram seu rosto em dois, tendo que passar por uma cirurgia reconstrutiva facial complexa. Um momento muito traumático para Dini e que vinte anos depois se atreveu a narrar, encorajado e apoiado por Kevin Smith e outros colegas através de um trabalho que não é nada mais e nada menos do que uma viagem para a psique mais profunda de um gênio que tinha tudo na vida: prestígio, reconhecimento, dinheiro e o trabalho que ele sempre sonhou, e ainda assim ele não poderia ser feliz.
Contava com a ajuda dos personagens mais populares do batverso como a Hera Venenosa, o Coringa, o Duas-Caras, o Espantalho, sua Harley Quinn, e, claro, o Batman, para analisar as complicadas situações pessoais pelas quais passava naquele estágio de sua vida. Um exemplo, Batman será a consciência tentando trazer de volta a vida e a autoestima de Paul, e o Coringa o oposto, tentando causar o caos. Tudo escrito de uma forma que não perca a personalidade do cenário, apesar da uma narrativa tão complexa.
Todos os fantasmas e demônios de Dini são abordados nesta história de momentos tão tristes e quanto cômicos. Essencial para conectar com seu drama pessoal, mas que inevitavelmente não ser para alguns leitores que esperavam uma história de super-heróis, por ser construída nessa forma. É uma narrativa muito agradável, fácil e simples (talvez exceto o epílogo, que possui certa complexidade, em referência a metalinguagem), a conexão emocional das 120 páginas desenvolvida é incrível.
A arte está integralmente feita pelo artista argentino Eduardo Risso, conhecido por seu trabalho em 100 balas, obra-prima do selo Vertigo, ao lado da grande Brian Azzarello. Risso mais uma vez não decepciona, fazendo um trabalho brilhante, começando pela capa. Um dos aspectos mais notáveis é o design dos personagens, e quando se trata de pessoas reais como Dini ou seus colegas de trabalho, com desenhos mais realista. Já quando os personagens da DC Comics aparecem, acompanhando Dini em sua vida complicada, os traços são mais caricaturais ou lembrando a série animada. O contraste desenvolvido se une a outros aspectos, como a cor extraordinária, que desempenha um papel importante na narrativa, diferenciando-se quando se trata dos quadros que tratam da infância, da narrativa presente, ou do corpus central da história, isto é, quando o ataque ocorre. Em suma, um trabalho impecável da parte de Risso.
Por fim, podemos classificar Noite de Trevas: Uma historia real de Batman como um dos bons lançamentos da Panini, ao trazer um fragmento da biografia de um artista brilhante, um gênio que tinha tudo e não era feliz. Uma história de superação, de queda e renascimento. Triste, engraçada, emotiva e bonita, tanto narrativa quanto esteticamente, graças a outro grande gênio como Eduardo Risso. Recomendo a leitura.
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