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Novo disco de Anitta patina na dispersão de talentos e busca por identidade

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Os dias que antecederam o lançamento de “Kisses” foram agitados para a cantora Anitta e sua equipe. Rumores sobre seu envolvimento com o jogador Neymar, e depois com o surfista Gabriel Medina, tomaram conta dos noticiários e sites especializados em celebridades. Suas preferências sexuais e até o apreço por substâncias ilícitas foram esmiuçadas em uma biografia (“Furacão Anitta”, por Léo Dias /Ediouro) que mais parece um tratado sobre a fofoca no mundo pop nacional. Até sua festa de aniversário provocou comentários.

Uma coisa é fato: hoje tudo o que envolve Anitta toma dimensões superlativas. Era exatamente o que a cantora queria com esse novo trabalho: um disco para abalar o mundo da música. Deu errado. Anitta sairá deste projeto menor do que quando resolveu inicia-lo com seus produtores e arranjadores.

Obviamente seu nome segue forte, seu senso de parcerias, a capacidade de construir carreiras (Jojô Toddynho, Pabllo Vittar, Nego do Borel, etc) continuam inabaláveis. Colocada em dúvida está sua capacidade criativa e de construção para um trabalho complexo como um disco. Ela não perdeu o talento, nem a voz, construída ao longo dos últimos anos com muito esforço e estudo (a Anitta do começo de carreira era um arremedo da cantora de agora). Perdeu sua consciência de espaço, algo extremamente importante para os grandes ídolos.

Kisses é um álbum desnecessário. Traz tudo que os bons produtores evitam: músicas monocórdicas com ausência de punch rítmico, desprovidas de alma. Até mesmo os elementos característicos e performáticos de Anitta se perderam em nome de uma busca de identidade que renega a brasilidade pela qual ela se tornou conhecida.

O público internacional, a quem Anitta persegue, não quer uma nova Beyoncé. Eles têm a original, muito mais potente e harmônica que a imitação de Honório Gurgel.

Desperdiçando participações especiais, Anitta conseguiu estragar até a presença de Snoopy Dog, mais conhecido pelos escândalos que pelo talento. A voz de Ludmilla é outra que se perde em meio a uma exaltação sem nexo à maconha. Bem aproveitado apenas o beatmaker carioca Papatinho, que poderia ter respondido por toda a produção rítmica do álbum.

O novo disco de Anitta é algo perfeito para ser ouvido em elevadores ou em lojas de roupas em um shopping qualquer. Amorfo, inofensivo. Sem nenhum traço do funk ascendente que a consagrou. Tudo parece deslocado em Kisses. Até quando o álbum acerta ele mostra as deficiências de conjunto. A bela Você Mentiu, cantada em parceria com Caetano Veloso, não interage com as demais canções, encerrando o álbum como um mergulho em uma fossa profunda ou ressaca de bebida ruim. Até os dez clipes lançados em conjunto com o disco são ruins. Faltou o dedo de um roteirista de talento para guiar os passos da cantora. “Kisses” é tudo, menos Anitta.

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