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O grande valor afetivo de “Licorice Pizza”

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Um dos únicos diretores de cinema americano que também pode ser chamado de autor, Paul Thomas Anderson (PTA) sempre demonstrou sua genialidade perene em sua capacidade de observação. A densidade por trás de suas obras-primas como Magnólia e Boogie Nights, só para citar alguns, sempre esteve na maneira primorosa como nos coloca como parte da perspectiva da história que quis contar. Seu novo filme, Licorice Pizza, traz um fator novo em sua filmografia: seu distanciamento é estranhamente pessoal.

E se a palavra estranho não é novidade em seu universo, é o fator pessoal que mantem sua obra intacta. Baseado no Vale de São Fernando, Los Angeles, onde foi criado e já havia ambientado os filmes citados, acompanha a relação que se estabelece entre Gary (Cooper Hoffman, filho do ator Phillip Seymour Hoffman, morto em 2014), de 15 anos, com a vizinha Alana (Alana Haim, do trio Haim), dez anos mais velha. Apesar da diferença de idade, os interesses vão ficando cada vez mais comuns sob a Califórnia dos anos 70.

Como todo filme de PTA, a sinopse é apenas um ponto de partida para as camadas que ele está interessado em abrir (afinal, sua grande referência é Robert Altman, né?!), e nesse caso, é notório que suas memórias juvenis abraçam a construção humana por trás dessa relação. Para tal, Gary está sempre a linha tênue entre sua puberdade romântica e uma inusitada maturidade para lidar com todo o resto, mas o filme é potencializado pela presença de Alana, uma atriz que traz tanta personalidade e fervor que o espectador se apaixona junto com ele.

Numa história delineada pela memória, o diretor (e seu maneirismo “Altmaniano“) enxerta de personalidades reais esse universo na qual os dois vão (se) lidando como que para faze-los enxergar o que são um para o outro. A competência dessa habilidade de Anderson segue invejável. Há riscos nesse seu valor, e eles aparecem quando abrange de mais a fauna desse passado – se Bradley Cooper brilha com seu Jon Peters, Sean Penn está ótimo, mas sua participação pouco acrescenta ao todo.

Entretanto, PTA sabe o que está fazendo, e o que ele extrai dessa relação segue sendo muito mais substancial pelos aspectos humanos que resulta, que exatamente por uma love story de formação. Licorice Pizza é Paul Thomas Anderson mais que observando, e, sim, refletindo.

Nota: Excelente 4,5 de 5 estrelas

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