Operação Dragão Negro: uma aventura urbana nos anos 2000

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Existe um tipo de narrativa gráfica que vem adquirindo o status de subgênero dos quadrinhos. São aquelas que retratam um período da vida de seu autor, como uma novela, só que gráfica. O título retrata um aspecto vivido, seja dramático ou aventuresco, o autor trilha um caminho em algum momento de sua vida e compartilha com o leitor. Normalmente se trata de um relato, na maioria das vezes em primeira pessoa, em que o autor expõe sem tabus e com detalhes os avatares de sua infância ou juventude. Como Craig Thompson em Retalhos (Blankets), Alison Bechdel e seu “Fun Home” ou ainda David Small com “Stitche”s, espiamos relatos dramáticos arrematando a emoção do leitor.

Há, ainda dentro deste subgênero, aqueles que mostram o cotidiano de uma década ou de um momento atual, de uma maneira bem aventuresca, apresentando uma narrativa e personagens comuns, tendo como cenário uma zona urbana. Esse é o caso de Operação Dragão Negro, do paraibano Paulo Moreira, autor conhecido por tirinhas na internet, com enorme número de visualização. Decidiu entrar no território dos quadrinhos, com o seu primeiro quadrinho, financiado no catarse, que traz toda a retórica apresentada em minha introdução, mas num clima Sessão da Tarde que lembra Os Goonies, colocando muito dos trejeitos do dia-a-dia entre os jovens paraibanos no inicio dos anos 2000. Não é uma obra confessional, mas possui uma narrativa alegre e rápida.

Um título que lembra os filmes do Bruce Lee e do Jet Li, mas que trata de um grupo de adolescentes que impedidos de irem a uma festa elabora um plano mirabolante, a operação do título, que consiste em conseguirem chegar a tal festa e um deles ter um encontro com uma menina. Com 74 páginas, o título foi escrito com o cuidado de repassar o maneirismo da época, carregando o entusiasmo da juventude frente a um problema, com todo aquele receio e reações que afligiam quem já passou por essa etapa da vida.

Argumento que segue uma narração linear, bem planejada, com personagens simples, mas que conjugam os axiomas do gênero em questão: lembranças, anos escolares, convívio urbano, nostalgia, referências da época. Porém, considero que não há um dramatismo de outro títulos aqui apresentados, e dentro do meu ponto de vista, é uma narrativa que vem mesmo para entreter. Já em relação a arte, aparentemente são traços simples, mas com planos, gestos e expressões sintetizadas, desenhos em P&B que ajudam em muito a narrativa.

Ambientada nos anos 2000, muitas referências utilizadas na história remetem à própria infância de Paulo. “Além do jeito de falar, a personalidade dos meninos refletia um pouco a minha e dos meus amigos. Fiz os locais baseados nas casas do bairro dos Ipês, então, existe essa mistura entre o real e o imaginário”, conta o quadrinista. Operação Dragão Negro agradará os leitores que se deleitam com aventura envolvendo pirralhos, planos mirabolantes, voadoras, anos 2000 e uma paixonite de criança.

Cadorno Teles
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Cadorno Teles

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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