Os Últimos Czares – uma grande produção da Netflix, mas que falha no roteiro

Não precisa ser um estudante de história europeia para saber que a família Romanov foi a última família real da Rússia Imperial, governando até que a Revolução Bolchevique depôs o último czar, Nicolau II, em 1917. Uma história intrigante que levou à publicação de vários livros, dos mais diversos, de teorias conspiratórias a àqueles em torno de pessoas que afirmam ser seus ancestrais. Mas em Os Últimos Czares (The Last Czars) na Netflix temos um documentário-drama que começa com a ascensão de Nicolau II ao trono, o envolvimento da família com Grigori Rasputin, sua eventual queda de seu opulento posto e o seu trágico final.

Os Últimos Czares é um daquelas séries que a Netflix combina entrevistas em estilo documentário e algumas imagens de arquivo com uma narrativa dramática. Não chamaríamos exatamente essas partes do roteiro de “reconstituições” porque a) Todos os russos falam com sotaque britânico, usando diálogos que imaginamos que nunca passaram pelos lábios dos Romanov e b) As partes dramáticas ocupam 95% dos episódios.

A série é da Nutopia, a produtora que nos deu documentários como The Great American Read (History Channel) e Civilizations (BBC), então sabe como fazer os dois tipos de narrativas. Aqui, as entrevistas com especialistas são usadas como uma boa maneira de juntar partes díspares da história dos Romanov e a história da queda de Nicolau II. Em vez de disparar desde a morte de seu pai até sua coroação e o nascimento de seus filhos, o tempo todo tentando estabelecer a história de Rasputin, as entrevistas são uma boa cola narrativa que ajuda com tudo que está acontecendo, especialmente no início, fazer sentido.

As entrevistas são o embasamento histórico, mas o principal objetivo da narrativa não são as entrevistas, e sim as cenas dramáticas. E bem produzidas por sinal, exceto por alguns diálogos aqui e ali e uma tendência para alguma nudez gratuita, Robert Jack como Nicolau e Ben Cartwright como Rasputin nos presenteiam com pistas, e definitivamente parece que haverá histórias de fundo sobre as maquinações que levaram a família Romanov a aquele porão, onde todos morrem, com a possível exceção de Alexandra.

Os erros de um czar

No fundo, temos uma história sobre estupidez monumental, com os comentários afiados dos acadêmicos, a série pinta um retrato de uma tragédia que ocorreu por causa dos incessantes erros cometidos por suas vítimas. Começando quando Nicolau assume sua posição como monarca, detentor de um império que abrange um sexto do mundo, com mais de 146 nacionalidades; uma nação em rápida industrialização, mas que proclama seguir os princípios da autocracia em troca de qualquer elemento da democracia- uma decisão que definirá o tom de seu reinado seguinte e sua queda.

Os Últimos Czares – uma grande produção da Netflix, mas que falha no roteiro – Ambrosia

O casamento de Nicholas com a esposa alemã Alexandra (Susanna Herbert) é um casamento romântico, como poucos entre os casamentos reais, mas a série aborda a violência que se segue ao povo, como na cena em que o czar e sua mulher acenaram de sua carruagem ao passarem pelos veículos que transportavam cadáveres, confundindo-os com simpatizantes. É um incidente emblemático de sua concepção e de seu relacionamento com as massas, que deu ao monarca o apelido de “Nicolau, o Sangrento”.

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Os Últimos Czares também se concentra na ascensão de Grigori Rasputin (Cartwright), um camponês que, durante uma peregrinação, passa a acreditar que o pecado é um precursor necessário para a salvação. O “carisma indomável” de Rasputin o coloca em um caminho que o leva a milhares de quilômetros de distância de sua casa na Sibéria para as cortes de São Petersburgo e, chegar ao núcleo dos Romanov, onde Nicolau e Alexandra consideram seus dons vitais, dados seus insucessos em ter um herdeiro homem.

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Esse menino chega, finalmente, na forma de Alexei (Oskar Mowdy), mas que nasce com hemofilia e, portanto, corre o risco de morrer antes de assumir o trono. Os Últimos Czares afirma, de forma persuasiva, que a condição de Alexei foi a faceta mais importante da vida dos Romanov. Isso influencia cada movimento de Nicholau como governante. Isso força Nicolau e Alexandra a se retirarem dos olhos do público, criando assim um abismo ainda maior entre eles e seu povo. E, o mais importante de tudo, é uma abertura para Rasputin ganhar domínio sobre eles, uma vez que convence o casal de que ele é a única pessoa capaz de manter Alexei saudável e seguro.

E esse Rasputin ao entrar em cena,  a figura dos tablóides e das fofocas é construída e tudo se transforma em um festival sexual, com orgias por conta própria. Temíamos que Rasputin e Alexandra se encostassem na parede do palácio, como retratavam os satíricos da época. Parou antes disso, mas a mostrou apoiando a cabeça em seu ombro e abraçando-o de maneiras que a austera Alexandra, sempre consciente de sua posição, jamais teria permitido.

Um grande orçamento com um fraco roteiro

Um orçamento grandioso com cenários reluzentes de palácios, joias da coroa, carros de época e locações em Vilnius, Lituânia e Rundale, Letônia, seria melhor gasto com melhores roteiristas. A série transmite um sentido íntimo dos pensamentos e emoções que guiam Nicolau, Alexandra e Rasputin.

O suspense da série é mitigado pelo destino conhecido de seus personagens principais.. No entanto, temos um subtrama que envolve um ex-tutor Romanov (Oliver Dimsdale) investigando, em Berlim, o caso de uma mulher (Indre Patkauskaite) que diz ser a filha mais nova do czar Nicolau, Anastasia.

Veredito

Os Últimos Czares – uma grande produção da Netflix, mas que falha no roteiro – Ambrosia

Os Últimos Czares, da Netflix, pinta um retrato vívido da ascensão e queda da família Russa Romanov por meio de uma mistura de drama e documentário, e infelizmente, pequenas imprecisões, descuido e alguns exageros não funcionam tão bem. Era preferível um drama bem roteirizado como The Crown ou um documentário mais aprofundado, mas vale pelo contexto e produção apresentados.

Nota: Regular – 2.5 de 5 estrelas

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