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“Ozark” subverte seu DNA derivativo da chamada “Era de ouro da tv americana”

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Após o boom da chamada “Era de Ouro da TV americana“, no qual surgiram séries seminais que até elevaram o nível do veículo TV como obra de arte nos EUA, era esperado que a ressaca criativa aparecesse em algum momento. Entretanto, mais do que isso, um clichê recorrente tem marcado essas dramaturgias, com vícios certeiros em investigar a complexidade de anti-heróis dentro de suas famílias desestruturadas – geralmente com esposas refletindo esses abismos – e diante da complexidade de suas próprias escolhas errôneas. Podemos enumerar, só das que estão no ar, umas quatro tramas que são variações desse paradigma. Ozark não foge à regra. Afinal, a Netflix precisava de seu quinhão na tendência.

Mas Ozark sabe usar essa apropriação a seu favor, e é por isso que a série ganha tanta espessura em seus envolventes dez episódios. Projeto empreendido pelo ator Jason Bateman (tão bom com comédia quanto no drama), o qual dirige e também protagoniza como o consultor financeiro Marty Bird, um pai de família, a priori honesto, até que um narcotraficante o contrata para rentabilizar suas finanças. Daí ele acaba entrando num esquema de lavagem de dinheiro e consequentemente dos bastidores do tráfico de drogas, tendo que ir morar nos arredores do lago Ozark, no interior dos Estados Unidos, com sua esposa Wendy (Laura Linney, sempre excelente) e seus dois filhos.

A questão é que a cidadezinha não dá nome a série impunemente. Existe ali uma gama de personagens insanos e ordinários que só amplificam a enrascada que Marty está envolvido. Emerge daí uma notável habilidade da produção: o grande número de bons personagens que condensam a história principal, e o destaca da previsibilidade de suas tendências.

Julia Garner, como a garota que é o esteio emocional da família ordinária, e que vai de algoz para cúmplice de Marty, num percurso dramático muito bem escrito, é um claro destaque na trama. O roteiro também merece louros, uma vez que sua narrativa parece sempre procurar surpreender diante do um campo tão minado que vai construindo. Ainda que deixe alguns furos, funciona bem dentro do que se propõe, até a tensão anunciada no episódio final dessa primeira temporada, que termina de maneira melancólica mas persuasiva para seguirmos acompanhando as desventuras éticas de nosso protagonista em seu meio pernicioso.

No final do primeiro episódio, tem uma cena em que Bird está diante de uma espécie de ribanceira ao som da canção “Decks Dark“, do Radiohead. A música, a trilha e o olhar dele apontam diretamente para o que nos espera. São nesses detalhes, felizmente repetidos ao longo dos episódios, que estão as justificativas para Ozark ser mais que uma derivação de tendências televisivas. Ou ser uma subversão delas. 

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