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Parthenope: Os Amores de Nápoles

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Juntas, elas têm 26 Oscars de Melhor Filme Internacional. Itália e França, duas potências do cinema desde a era muda, produziram nomes como Truffaut, Godard, Fellini e Antonioni, só para citar alguns. A Itália produziu, em sua safra mais recente, também Sorrentino, cujo novo projeto, uma co-produção França-Itália, é um estudo de personagem que ultrapassa as barreiras do formato.

Nossa história começa na costa italiana em 1950, quando nasce uma menina chamada Parthenope (uma das sereias da mitologia grega). O nome é dado por seu padrinho, o rico e poderoso Comandante (Alfonso Santagata), que havia acabado de presentear o irmão da menina, Raimondo, com uma carruagem de Versalhes transformada em leito para descanso. Dezoito anos depois, a carruagem-cama serve de ninho de amor para Parthenope (Celeste Dalla Porta), que está estudando Antropologia e saindo com Sandrino (Dario Aita). Cinco anos se passam e, nas férias em Capri, apesar de acompanhada de Raimondo (Daniele Rienzo) e Sandrino, Parthenope é cortejada por diversos homens, entre eles o escritor de quem é fã, John Cheever (Gary Oldman), e um milionário. As férias acabam mal.

Em seguida, a jovem vai atrás da coach de interpretação Flora Malva (Isabella Ferrari), que a envia até um evento da diva Greta Cool (Luisa Ranieri) que, apesar de napolitana como Parthenope, despreza Nápoles e deixa isso bem claro em seu discurso. Na mesma noite, Parthenope é testemunha de uma cerimônia estranhíssima, acompanhada de Roberto Criscuolo (Marlon Joubert). Será ele só mais uma conquista de Parthenope? E ela, seguirá carreira acadêmica ou como atriz?

O encontro entre Parthenope e John Cheever é curto e platônico, embora eles se completem. John tem o intelecto, o poder de quebrar a monotonia das palavras. Ela tem muito mais: além do intelecto, pois é verdadeiramente inteligente, inclusive falando inglês com perfeição, tem a beleza, que todos sabemos que abre portas – embora o Comandante declare que ela não sabe usar sua beleza a seu favor. A beleza de Flora Malva se foi, por causa de um cirurgião – brasileiro! – que a desfigurou. Beleza não é o forte do professor Marotta (Silvio Orlando) de antropologia, mas ele sabe dar belos conselhos.

Uma pergunta que permeia o filme é feita por Parthenope ao seu mestre: o que afinal é antropologia? O dicionário Michaelis nos diz que é a ciência que tem por objeto o estudo e a classificação dos caracteres físicos do homem e dos agrupamentos humanos (origem, evolução, desenvolvimento físico e material), bem como seu comportamento, costumes, crenças sociais etc. Perto do fim do filme, o professor dá outro significado, mais poético: antropologia é saber ver, e isso é a última habilidade que se aprende, pois é o que sobra para fazer quando todo o resto falta.

Muitas críticas foram feitas por ser um homem, Paolo Sorrentino, contando a história de uma mulher, com muito sexo e, se é que podemos usar essa palavra aqui, devassidão. Obcecado por juventude e beleza – tanto é que dois de seus filmes pregressos são exatamente “Juventude” e “A Grande Beleza” – Sorrentino criou uma personagem cativante, até bastante complexa e cuja história é prazeroso acompanhar.

Raimondo diz ao padrinho que é impossível ser feliz no lugar mais lindo do mundo. Quando Sandrino diz a Parthenope que ela “se tornou uma pessoa cruel, arrogante e fria” ela simplesmente retruca que se tornara uma adulta. São apenas duas falas de um filme longo e complexo, que narra a trajetória de uma mulher em meados do século XX, cujos dilemas surpreendentemente são semelhantes aos da mulher moderna. Assim, ela, que desviou de rótulos, acaba se tornando uma espécie de mulher-símbolo e, como acontecia no mito das sereias, cabe a nós a apreciarmos sem cair em suas armadilhas.

Parthenope

Parthenope
8 10 0 1
Nota: 8/10 Excelente
Nota: 8/10 Excelente
8/10
Total Score iExcelente
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