Se você gosta de História tanto quanto eu, já deve ter se perguntado em algum momento: o que eu faria se pudesse mudar o rumo da História? Com o cinema você pode, em especial com um gênero – ou talvez subgênero, se você considerar “documentário” como um gênero – chamado mockumentary. As vidas ceifadas em vão pelas inúmeras guerras de repente são salvas e muitas histórias tristes passam a ter um final feliz – até que surge algum paradoxo temporal e a aventura pode ser colocada a perder. Tudo isso você encontra na narrativa do mockumentary Máquina do Tempo.
Em 01/10/1938 a máquina do tempo batizada de LOLA é ligada pela primeira vez, e o que conseguem captar é um videoclipe de David Bowie. As meninas responsáveis pela engenhoca veem as maravilhas do futuro, mas também dão o sinal de alerta. Conhecendo quando serão efetuados ataques nazistas à Inglaterra, elas alertam via rádio e assim ficam conhecidas como “o Anjo de Portobello” pelas inúmeras vidas que salvam.
Como não podia deixar de ser, as previsões chamam a atenção e uma investigação militar tem início. Os soldados conseguem interceptar o sinal das irmãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini), que então aceitam trabalhar junto ao exército, mas seguindo suas próprias regras. Trabalhando neste vital projeto de inteligência ao lado das garotas está Sebastian (Rory Fleck-Byrne). Enquanto isso, Martha filma tudo com sua câmera sempre à mão.

E então surge o paradoxo inevitável em todos os filmes sobre máquinas do tempo: mexem com o futuro. De repente não há mais David Bowie, Nina Simone, Stanley Kubrick. Um transatlântico americano tem de ser sacrificado para uma vitória da marinha britânica e os Estados Unidos não entram na guerra. Quando um erro acontece, as meninas que “pagam o pato”. A guerra realmente não tem rosto de mulher.
O filme é capaz de alimentar o debate sobre as mulheres na ciência, bem como sobre o ato de captar mulheres consideradas brilhantes e levá-las para o lado do mal. Quando isso acontece com Thomasina, não podemos evitar nos lembrar de Leni Riefenstahl, cineasta ambiciosa para sempre ligada ao Nazismo com seus filmes grandiosos exaltando o regime. Outra seduzida pelo terrível regime foi Thea von Harbou, roteirista e esposa do diretor Fritz Lang – este escapou para a América.
Talvez o gimmick – truque que chama o público para ver o filme – aqui seja o uso de câmeras autênticas da década de 1930, além de um tanque de revelação fotográfica da era soviética. O realizador, Andrew Legge, faz sua estreia na direção de longas e aposta no estilo “found footage”: considerado um subgênero do filme de terror, ele nada mais é do que a apresentação das imagens do filme como se fossem gravações amadoras de algo real, encontradas e reveladas ao mundo a posteriori.

Num mundo como o nosso, novamente assombrado pelo fascismo, a mensagem que fica de Máquina do Tempo é que uma só pessoa pode alterar o curso da História. E não é preciso nenhuma geringonça para fazer isso: basta ter uma câmera e a coragem de fazer cinema.
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