A diretora Carolina Markowicz tem se revelado um dos expoentes do cinema nacional, já em seu segundo longa metragem, o potente e sensível Pedágio. Isso porque ano passado, seu primeiro, Carvão já figurava entre os melhores filmes do ano, e sempre com inteligente dosagem de sensibilidade e impacto politico-discursivo. A atenção aos detalhes vai na precisão com que constrói a relação espacial de suas personagens em seus conflitos.
O próprio título Pedágio já reverbera o viés ordinário da protagonista Suellen (pela segunda vez consecutiva, Maeve Jinkings domina a cena num filme de Carolina), que trabalha em um, e alude a uma falsa ideia de controle do ir e vir alheio. Mesmo que esse alheio se refira a seu próprio filho homossexual. Antonio “Tiquinho” (o interessante ator Kauan Alvarenga) parece ser um clarão naquele pequeno seio familiar obscuro (destaque absoluto para a direção de arte), uma vez que o roteiro vai desenvolvendo exatamente o quanto a sombra da mãe acaba sendo nociva para a iluminação do filho.
A história se desenvolve quando Suellen, não aceitando a personalidade e orientação sexual do filho, o matricula num suspeito curso de “cura gay”. A ressaca política que o país se encontra hoje, especialmente com seus traumas fundamentalistas, dão a tônica para o discurso que Markowicz procura trazer com seu filme, sob todas as perspectivas (como da excelente coadjuvante de Aline Marta Maia).
O grande mérito consiste mesmo na construção e jornada dps personagens de mãe e filho. Há ali muita delicadeza e rudeza forjando a relação de causa e efeito que essa relação suscita. Maeve e Kauan entendem bem a desolação de seus personagens e isso torna seus efeitos mais potentes que meramente sensíveis. Carolina parece ter ainda muito a dizer com seus belos filmes, e Pedágio já traz uma maturidade que em nada parece de uma principiante.
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