Existem três formas de operar a linguagem: A fala, a escrita e a gravação. A fala está estabelecida pela dinâmica do corpo, sendo a mais natural da expressão do homem. A escrita requer um meio para estabelecer a comunicação, um “corpo” entre seus signos linguísticos e o leitor-ouvinte. Sempre vi no poema um remix de afetividades, uma colagem de ideias, sons que o poeta brincante vai recortando na hora da escrita, como um gravador que faz uma edição das palavras – jogos que são espaçadas na marca – texto, mas trocando a página por um copy – áudio.
Por isso me vem esta ideia enquanto escrevo a resenha do livro do poeta Nuno Rau que lançou pela editora Patuá seu álbum- livro Mecânica Aplicada. Sua Mecânica não está programada por algum tipo de programa fechado. Sua performance é trans por a forma de compor o poema estabelecendo como veículos outros círculos que não só a página do texto, mas sim, utilizando um repertório de remix lembranças que são nosso editor moderno de cortes.
Ali na hora da escrita, os poemas de Nuno que já são em si uma obra aberta ao jogo e ao acaso, pela portas abertas que o poeta deixa em cada verso, na leitura aberta que o leitor possa fazer de seus poemas sempre verticalizados no sentindo de ir além de uma possível interpretação estanque. Há além desta questão, uma potencialidade de abrir ao poema ao vasto território das revisitações da leitura como processo (re)juntante da forma de criar olhando para a memória literária como processo de gravação do corte-lembrança.
Pequenos trechos de poemas que o poeta já leu são sampleados em trechos do seu poema criado revelando algo que descobre um contexto entre ato criativo e a forma de apropriação textual, de outros poetas, em que se está ligado o próprio feito da leitura como processo de editar. Assim o poeta ressignifica a palavra leitura como forma de lembrar versos, afetos que estão em loco na memória, e cria assim um remix de uma celebração à forma de conviver com o outro.
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