De cara, já podemos afirmar que 15h17 – Trem para Paris é o pior filme de toda a carreira de Clint Eastwood. E eu incluiria aqui também os seus trabalhos como ator. Chega a ser impressionante como o mesmo diretor de obras-primas como Os Imperdoáveis e Sobre Meninos e Lobos entrega um filme tão ruim. Não faltam razões para justificar isso, mas a mais nociva e que vem corroendo o trabalho do veterano, tem muito a ver com suas conhecidas inclinações políticas, que respinga numa obsessão pelo heroísmo cívico sem muito auto juízo de valor. Tanto que seus últimos filmes ora celebravam uma questionável face da cultura belicista ianque (Sniper Americano), ora procuravam desesperadamente uma “jornada do herói” diante de um óbvio herói sem grandes jornadas (Sully).
15h17 – Trem para Paris dá continuidade a esse paradigma, mas com o agravante de que Clint dessa vez parece não estar muito preocupado em arregimentar seu discurso com sua boa base cinematográfica de sempre. Acompanhamos a história real dos três amigos americanos que, em uma viagem pela Europa, impedem um terrorista de fazer uma carnificina dentro de um trem na França.
Esse é o ponto inicial. Partindo daí, só veio escolhas equivocadas: 1. Clint resolveu chamar os próprios – Alek Skarlatos, Spencer Stone e Anthony Sadler – para darem vida a si mesmos. E o resultado é bem ruim, próximo do constrangedor. As inexperiências gritam devido a tantas exigências dramáticas de um roteiro que procura o tempo inteiro justificá-los; 2. O foco da narrativa é surreal. Clint resolve se debruçar sobre a relação de um deles com as forças armadas numa metáfora boba sobre a integridade de seus heróis. E depois a trama “evolui” para um verdadeiro programa turístico deles pelas cidades europeias e suas banalidades.
Quando chega o fato em si, o filme, que nem é grande, parece já ter mais de três horas de duração de tão cansativo e esvaziado que é. Isso é tão sintomático (no sentido mesmo de descartável), que quando Clint se debruça sobre o episódio da bravura em si, deixa vislumbrar seu costumeiro vigor fílmico, dirigindo com tensão e precisão o fato. Mas tudo começa e termina naqueles poucos minutos. Todo o resto é desperdiçado num filme tão caduco quanto as pretensões republicanas de seu cinema ultimamente.
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