'7 Dias em Entebbe' não traz o melhor de José Padilha como diretor – Ambrosia

'7 Dias em Entebbe' não traz o melhor de José Padilha como diretor

'7 Dias em Entebbe' não traz o melhor de José Padilha como diretor – Ambrosia

O cineasta José Padilha acostumou mal o público que gosta de um bom cinema. Depois de conquistar os corações cinéfilos com o documentário “Ônibus 174” e os sensacionais “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”, além de realizar um bom remake de “RoboCop” (que, ainda assim, dividiu opiniões), parecia que todos os seus filmes sempre seriam de bastante impacto e capazes de arrebatar, não só pela parte técnica, como também pelas questões levantadas em suas histórias que levam à reflexão. O problema é que isso não acontece exatamente com seu novo trabalho, “7 Dias em Entebbe” (“Entebbe”, 2018), que procura mostrar o que aconteceu durante o sequestro de um avião em 1976 que causou comoção mundial e que já foi tema de outras produções. Não que seja um filme ruim. Longe disso. Mas falta a ele o diferencial que Padilha imprimiu tão bem em suas produções anteriores: vigor e autenticidade.
Inspirada em fatos reais, a trama conta como foi elaborado o plano liderado por Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), extremistas alemães que, junto com dois palestinos, sequestraram um avião da Air France que ia para Paris com 248 passageiros no dia 27 de junho de 1976. Os sequestradores levaram a aeronave para o aeroporto de Entebbe, em Uganda, país que era governado na época pelo ditador Idi Amin (Nonso Anozie), e fazem os passageiros e a tripulação como reféns.
A notícia cai como uma bomba para o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), que entra em conflito com o seu ministro da Defesa, Shimon Peres (Eddie Marsan), que acredita que ele não deve ceder às exigências dos terroristas, que querem US$ 5 milhões e a libertação de cerca de 50 militantes pró-Palestina presos ao redor do mundo. Para Peres, a solução ideal é a realização de uma ação militar para resgatar os reféns e deter os seus captores.
Com uma história tão instigante quanto essa, Padilha parecia ser o diretor ideal para realizá-la e conferir a energia necessária para torná-la um thriller instigante. No entanto, salvo alguns raros momentos, o que o brasileiro fez não difere muito do que outros realizadores já fizeram, até mesmo em telefilmes que volta e meia passam no “Supercine”, por exemplo. Muito do que é mostrado na tela é bastante burocrático e pouco envolvente, o que é uma pena por não despertar a tensão esperada.
Há várias questões que o filme levanta, como o conflito entre os sequestradores alemães de não serem bem vistos por estarem com judeus em seu poder, o que faria a opinião pública associar a ação a um novo Holocausto, que é interessante, mas é colocado de forma superficial e logo esquecida. Até porque Padilha não parece ter um foco definido para o filme. Talvez porque esse não é um projeto realmente seu e teve que se submeter à vontade dos produtores. Contrariedade que, segundo boatos, ele também teve com “RoboCop”.
Outro problema que o filme apresenta é que, desta vez, Padilha não realizou cenas de ação tão convincentes quanto às que fez nos dois “Tropa de Elite”, deixando o impacto e a verossimilhança de lado para fazer algo mais convencional, o que pode decepcionar muita gente. Além disso, o roteiro assinado por Gregory Burke parece às vezes não saber como desenvolver tantas subtramas com tantos personagens, perdendo o foco de alguns deles durante a história. Um bom exemplo disso é mostrar os protagonistas como pessoas hesitantes sobre o que devem fazer em momentos cruciais. Fica claro a intenção do roteirista em torná-los mais humanos e não simples caricaturas, mas isso pode irritar parte dos espectadores, especialmente se forem judeus. Sem falar na história envolvendo o personagem Zeev, interpretado por Ben Schnetzer, que ganha importância mas nunca chega a empolgar.
O curioso é notar que os pontos positivos do filme não vêm nem da direção nem do roteiro, mas sim da edição e da fotografia, feitas pelos habituais colaboradores de Padilha, Daniel Resende (o diretor de “Bingo: O Rei das Manhãs”) e Lula Carvalho, respectivamente. O principal momento de Resende é uma sequência que mistura um número da Companhia de Dança Batsheva, de Ohad Narahin, com a preparação dos militares para a missão de resgate. Já Carvalho consegue dar um tom certo para dar um clima de aridez que também contribui para aumentar a tensão entre os sequestradores e seus reféns durante o seu cativeiro. Vale destacar também a boa trilha sonora assinada por Rodrigo Amarante, integrante do grupo Los Hermanos e que interpreta a música-tema do seriado “Narcos”, do qual Padilha também esteve à frente.
À frente do ótimo elenco, Rosamund Pike faz o possível para tornar sua Brigitte Kuhlmann uma mulher de várias camadas e, assim, mais interessante. Porém, a atriz não alcança a profundidade necessária e acaba limitando a sua atuação a gritos, ataques de fúria e olhos arregalados que a fazem mais parecer um cosplay do Michael Jackson no fim da sua vida. Nem mesmo num momento crucial da trama, que é praticamente um solo dela, a coisa melhora porque sua performance acaba antecipando o que seria uma surpresa.
Daniel Brühl dá um tom certo de revolta e, ao mesmo tempo, de ingenuidade para Wilfried Böse e, ao contrário de sua parceira de cena, tem pelo menos uma ótima sequência ao ser questionado pelo engenheiro de voo (interpretado por Denis Ménochet, ótimo) sobre a importância de pessoas como ele no mundo. Mas quem rouba a cena mesmo é Eddie Marsan, como um Shimon Peres astuto e disposto a convencer a todos de suas ideias apenas na conversa. Graças a ele, o filme ganha um pouco de vida e é uma pena que isso dure pouco.
No fim das contas, “7 Dias em Entebbe” acaba apenas cumprindo tabela na filmografia de José Padilha, que parece estar cada vez mais disposto a investir em sua carreira internacional. Mas precisa voltar a ter aquela paixão que demonstrou em seus primeiros projetos para ser reconhecido lá fora como um cineasta diferenciado. Do contrário, acabará conduzindo trabalhos pouco memoráveis, o que seria realmente um desperdício.
Filme: 7 Dias em Entebbe (Entebbe)
Direção: José Padilha
Elenco: Rosamund Pike, Daniel Brühl, Eddie Marsan
Gênero: Drama, Suspense
País: Reino Unido
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Diamond Filmes
Duração: 1h 47min
Classificação: 12 anos

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