De uns tempos para cá, parte da imprensa especializada e do público passou a destacar o fato de que alguns atores e atrizes, mesmo com ótimos trabalhos, acabavam não sendo vencedores em suas categorias, principalmente no prêmio mais badalado do mundo do cinema, o Oscar, chegando até a fazer piadas e dizer que é uma maldição a ser quebrada.
Leonardo DiCaprio foi um dos que mais chamou a atenção, sendo motivo de piadas e memes pela internet por causa de sua “falta de sorte”, que só terminou quando finalmente foi laureado em 2016 por sua performance em “O Regresso”.
Agora, dizem que Amy Adams “herdou” o legado do astro e novas brincadeiras foram feitas com o fato. Só que poucas pessoas não perceberam ou simplesmente não sabiam do fato de que há outros atores e atrizes que estão na mesma situação e mereciam o reconhecimento há muito mais tempo.
É o caso de Glenn Close, que já prestou diversos (ótimos) serviços para o cinema, o teatro e a televisão, como as atuações magníficas em produções como “O Fio da Suspeita”, “Atração Fatal”, “Ligações Perigosas”, “O Jornal”, entre outras, além da série de TV “Damages”, que protagonizou por quatro temporadas.
Mas nos últimos anos, Hollywood tem oferecido para ela papéis que estão abaixo de seu talento e sua importância, como a Cruella de Vil da versão live action de “101 Dálmatas” (e sua continuação) e em “Guardiões da Galáxia”, que pouca gente percebeu que era ela interpretando a líder da Tropa Nova, Nova Prime.
Ao que tudo indica, pode ser que finalmente a justiça seja feita e Glenn poderá ser indicada e com grandes chances de levar a estatueta dourada para casa em 2019, graças ao seu sensacional trabalho apresentado em “A Esposa” (“The wife”, Reino Unido, Suécia, EUA, 2018), que mostra uma verdadeira entrega da atriz e se torna o principal motivo para o filme existir, já que, embora bem feito, ele não se destaca muito em outras áreas, tornando-o apenas uma obra competente, mas sem maiores brilhos além da interpretação de sua protagonista e o elenco que a cerca.
Na trama, Close vive Joan Castleman, devotada esposa do famoso escritor Joseph “Joe” Castleman (Jonathan Pryce), com quem está casada há 40 anos. Um dia, Joe recebe um convite para ir a Estocolmo porque ele foi escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura. Assim, o casal, acompanhado pelo filho David (Max Irons), viaja para a Suécia para participar da cerimônia de premiação.
Joan acaba sendo abordada pelo jornalista Nathaniel Bone (Christian Slater), que pretende escrever uma biografia de Joe e, durante uma conversa, ele revela ter percebido algo curioso que pode estar relacionado a um segredo no passado dos dois. Aos poucos, Joan passa a refletir sobre sua vida e os sacrifícios que fez em nome do amor que tem pelo marido.
Inspirado no livro de Meg Wolitzer, “A Esposa” conta com uma boa direção por parte de Björn Runge, embora em alguns momentos ele pareça estar fazendo uma peça de teatro e não um filme de cinema, pela maneira que deixa seus atores em marcações muito fixas em algumas cenas, principalmente as que internas. Felizmente, ele se mostra um bom diretor de atores e não interfere a ponto de torná-los presos demais, deixando-os à vontade para que deem o melhor de si.
O principal problema do filme, no entanto, está no roteiro escrito por Jane Anderson, que praticamente “telegrafa” ao espectador tudo o que vai acontecer na trama, deixando praticamente nenhuma surpresa na história até o seu desfecho. Vale, pelo menos, por alguns diálogos travados pelo casal protagonista, que mostram muito bem a conturbada relação de amor e frustração que mostra que, por trás de sorrisos e olhares afetuosos, há algo mais profundo e dolorido que os dois tentam esconder até não ser mais possível.
Como já foi escrito anteriormente, o que justifica a existência de “A Esposa” é a inspirada atuação de Glenn Close, que apenas com um olhar, mostra os reais sentimentos que sua Joan nutre em determinados momentos da trama e isso não é nada fácil. Mas a atriz prova, aqui, que tem o domínio de uma gama de recursos dramáticos e sabe como utilizá-los como poucas atualmente.
Ao seu lado, Jonathan Pryce também realiza um trabalho exemplar ao tornar Joseph um personagem multifacetado, já que o escritor se mostra um homem carismático, porém arrogante e até infantil em alguns momentos, além de ser fascinado pela adulação, tanto da mulher quanto por outras pessoas.
No elenco, também se destaca Annie Starke, filha de Close na vida real e que constrói a versão jovem de Joan, que vai aos poucos perdendo a inocência e ficando cada vez mais devota de Joe, vivido pelo correto Harry Lloyd.
É interessante também ver o recuperado Christian Slater num papel mais relevante, após passar um período complicado em sua vida por causa de seu problema com as drogas. Provavelmente, essa boa chance surgiu após se consagrar na série de TV “Mr. Robot”. Já Max Irons se esforça, mas não consegue deixar David interessante, com uma performance abaixo dos seus colegas de cena.
No fim das contas, “A Esposa” vale para quem quer assistir um bom drama, cujo principal pecado é não possuir maiores surpresas em seu desenrolar. Mesmo assim, ele chama a atenção pela qualidade mostrada por seu elenco e pela discussão levantada sobre as relações abusivas, que não precisam necessariamente ser por causa de episódios de violência. Elas também podem ser pela anulação de uma partes do casal, como é o que acontece aqui. E também servem de alerta para que as pessoas não deixem sua chama interna se apagar por nada, nem mesmo pelo grande amor de sua vida.
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