Filmes que se passam no espaço sideral têm sido excelentes parábolas emocionais no cinema hollywoodiano dos últimos anos. Há cerca de quatro anos, Ridley Scott ja tinha investigado a complexidade do isolacionismo em Perdido em Marte. Ano passado, após o prestígio alcançado por La La Land, o diretor Damien Chazelle ilustrou a questão da finitude do homem, com o sensível O Primeiro Homem, e agora James Gray ultrapassa a busca lunar, para versar sobre busca de identidade com Ad Astra.
Um cada dia mais maduro Brad Pitt dá vida a Roy, astronauta recrutado para uma viagem ao desconhecido, ou seja, planeta Netuno, para encontrar seu pai (Tommy Lee Jones) perdido que pode estar envolvido (ou não) em artimanhas que podem afetar o destino de toda humanidade.
A ausência do pai justifica todo o presente de Roy, e consequentemente sua vida pessoal.
Para além das necessidades técnicas (uma direção de arte sem afetações) que um filme de ficção científica normalmente precisa, Gray interessa-se bem mais pela dimensão humana dessa ausência na vida de seu protagonista, arrancando uma interpretação precisa de Pitt e totalmente desconstruída de Lee Jones.
A fotografia de Hoyte Van Hoytema (colaborador costumeiro de Christopher Nolan) é de extrema necessidade para equilibrar ou mesmo integrar, o contexto cenográfico espacial (com direito a bases lunares crives) com os conflitos individuais de Roy. Esse equilíbrio é a chave para que o filme se desconstrua.
Os filmes de James Gray são sempre envoltos de um tom pesaroso, carregado emocionalmente. O que não torna isso um defeito, é o talento dele em fazer dessa carga emocional um sinônimo de densidade. Ad Astra é assim, denso e substancial. Requer mais do espectador, mas vale a pena. A solidão do espaço é na verdade a jornada pessoal de Roy. Uma prova que até para além do planeta, as relações humanas têm muito a dizer sobre quem as investiga e as assiste.
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