A França legou ao mundo grandes séries de histórias com um só personagem, como o Inspetor Maigret e o franco-belga Tintim. A França também vem fazendo, nos últimos anos, excelentes animações, como Ernest e Célestine (2012), Abril e o Mundo Extraordinário (2015), Persepolis (2007) e As Bicicletas de Belleville (2003). Por isso, transpor um personagem de quadrinhos 100% francês – o gaulês Asterix – para os cinemas só pode ter um resultado: sucesso.
Após cair de uma árvore e se machucar, o sábio druida Panoramix percebe que já não é mais tão jovem e que, caso alguma coisa aconteça com ele, ninguém mais saberá a fórmula da poção mágica que permite que os gauleses enfrentem os romanos e vençam sempre. Por isso, Panoramix sai em uma missão com Asterix e Obelix: eles vão percorrer todo o continente em busca de um jovem druida capaz de substituir Panoramix. Com eles vai infiltrada uma discípula de Panoramix, a pequena e valente Pectin.
Mas este não é apenas um road movie da época romana: há também um poderoso vilão, o também druida Sulfurix, que um dia recebeu promessas de sucesso e fama, mas não conseguiu nada disso e, tornando-se um pária, decidiu esperar o momento certo para dar o bote no velho conhecido Panoramix – e talvez entregar toda a aldeia gaulesa para os romanos.
Felizmente, o filme se centra na figura de Panoramix, um coadjuvante que sempre mereceu mais atenção. Asterix, dublado por Gregório Duvivier na versão brasileira, e seu grande amigo Obelix ficam em segundo plano, e uma briga entre eles é inclusive criada, mas jamais explorado e logo esquecida – bem, creio que qualquer hipnotismo tenha o poder de acabar com brigas, não?
Além da animação computadorizada, há também outras técnicas no filme: uma sequência em flashback é contada através de esboços animados, e parte da viagem de Panoramix é abreviada ao ser representada por animação 2D em um mapa. São técnicas diferentes de unindo para contar uma só história.
Asterix foi criado em 1959 por René Goscinny e Albert Udezo, primeiro na revista Polite, e a partir de 1961 em “álbum” próprio, com uma nova edição a cada ano. Traduzido para 83 línguas em seus 60 anos de existência, Asterix já tem 12 filmes, entre animação e live-action. Quem já conhece as histórias em quadrinhos ou os demais filmes verá algumas piadas e características dos personagens repetidas em Asterix e o Segredo da Poção Mágica, não de forma maçante, mas como uma divertida recompensa para quem já está familiarizado com a turma.
A primeira animação de Asterix foi feita em 1967, e todas as posteriores foram feitas tendo como base as histórias em quadrinhos. Asterix e o Segredo da Poção Mágica quebra esta tradição ao trazer uma trama completamente nova, feita apenas para o cinema, e por isso pensada para este meio e seu público. Isso também permite que o filme tenha várias menções à cultura pop e menos inspirações políticas e sociais, como era comum nas histórias de Goscinny e Uderzo. Os diretores do longa também foram responsáveis pela animação anterior do personagem, Asterix: O Domínio dos Deuses (2014): Alexandre Astier e Louis Clichy. Clichy tem experiência como animador na Pixar, em filmes como Wall-E e UP! Altas Aventuras, que certamente o influenciaram no novo projeto.
Asterix e o Segredo da Poção Mágica é divertidíssimo, cheio de humor tanto para crianças quanto para adultos. Há muitas piadas visuais para os pequeninos e boa dose de ironia e frases sarcásticas para quem já cresceu. Apenas em sua primeira semana de exibição na França, o filme provou seu sucesso arrecadando sete milhões de euros em bilheteria. Existe boa animação fora da Disney e de Hollywood. E quem ganha com essa diversidade, sempre, é o público.
Cotação: Muito Bom
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