Eu particularmente prefiro os filmes baseados em fatos e pessoas reais que exploram um momento na vida dos personagens do que as cinebiografias que tentam comprimir algumas décadas de vida e muitos acontecimentos importantes em 120 minutos. Quando foram anunciados três filmes sobre a estilista Coco Chanel entre 2008 e 2009 (Coco antes de Chanel, com Audrey Tautou; Coco Chanel, com Shirley MacLaine; Coco Chanel & Igor Stravinsky, com Anna Mouglalis), este último foi o que mais me chamou a atenção, por focar suas lentes no relacionamento mecênico-amoroso entre Gabrielle ‘Coco’ Chanel e o compositor russo Igor Stravinsky, um dos nomes mais importantes da música no século XX.
O filme faz, basicamente, dois recortes na vida de ambos. O primeiro permeia os 25 minutos iniciais do longa. O ano é 1913, Coco Chanel está começando a ser reconhecida pelos famosos chapéis que confecciona para a alta sociedade parisiense e vive em constante lua de mel com seu amante, Arthur ‘Boy’ Capel. Ambos estão presentes na premiere de ‘Le Sacre du Printemps‘ (The Rite of Spring) em Paris, um balé de Vaslav Nijinsky para a composição de Stravinsky. A apresentação acaba em revolta da platéia, que não aceita a dança tribal e a música pouco melodiosa e primitiva no palco. Assistindo a tudo, Coco tem seu interesse despertado, pois ela também sabe o que é estar à frente de seu tempo e sofrer com isso. Como nota de rodapé, vale dizer que ‘Le Sacre du Printemps’ se tornou bastante influente nas décadas seguintes e foi popularizada pelo filme Fantasia, da Disney. Já a coreografia criada por Nijinsky se perdeu no tempo e o diretor conseguiu criar uma bela re-imaginação para o filme.
Mas Stravinsky e Chanel são apresentados um ao outro somente em 1920, logo após a morte de Capel. Ela, já bastante famosa e a frente de sua famosa boutique, está de luto, mas lembra-se muito bem dele e lhe oferece ajuda, já que Igor está de volta à Paris com sua esposa doente e fugindo da revolução russa no pós-guerra. O compositor e sua família mudam-se para uma casa de campo da estilista, a fim de dar o espaço e tempo necessário para que Stravinsky possa compor sua próxima obra. E lá, é claro, floresce um caso entre a mecenas e o artista.
Infelizmente, este segundo recorte histórico abordado pelo filme não tem a mesma força da belíssima abertura e parece não ter muitas ambições além de trancar Coco e Igor junto à sua esposa doente, Katerina, numa casa de campo e mostrar o drama contido que se sucede. Como no caso entre os dois, o filme parece seguir apenas com desejo, sem paixão. A fotografia é um belo atrativo, o figurino é, claro, impecável e as belíssimas atuações de Mads Mikkelsen como o austero e carrancudo compositor e de Anna Mauglais como a imponente e fascinante estilista certamente valem o ingresso para aqueles que tem interesse na carreira/área de ambos. Mas no final das contas, a história aqui contada parece vazia, sem a vida necessária para render um filme de quase duas horas de duração.
É impossível falar do filme sem mencionar Coco Antes de Chanel, outro longa francês sobre Gabrielle, desta vez contando sobre sua vida antes de se tornar a costureira mais importante e influente do século XX (ambos foram produzidos em 2009). Se o filme com Audrey Tautou é uma típica e inofensiva cinebiografia sem grandes falhas ou méritos, mostrando o surgimento de uma personalidade, ela também serve como um prelúdio, explicando melhor o comportamento de Coco e o seu luto que transparece por todo o longa. Dito isso, penso que ambos os filmes são burocráticos e não cumprem mais do que o papel de ilustrar (ou fantasiar sobre) acontecimentos marcantes da vida da estilista.
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