“The Flash” era um dos filmes mais esperados do ano e não era para menos. Trata-se da estreia do Corredor Escarlate como um protagonista nas telonas, em uma trama adaptando um amado arco das HQs (“Flashpoint”), e com ninguém menos do que o Batman como coadjuvante. E não era qualquer Batman, mas sim Michael Keaton de volta ao papel que interpretou nos filmes dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992, no que foi a gênese da atual onda do cinema de herói. A cada notícia, a cada rumor/vazamento, crescia a expectativa de um grande evento. Já era tratado como o “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” da DC. E agora que o longa de Andy Muschietti chegou aos cinemas, finalmente, o que temos?
Barry Allen tem a Força de Aceleração como superpoder, adquirido quando foi atingido por um raio. Visando salvar seu pai de um delicado problema com a lei, e de quebra salvar sua mãe de uma traumática tragédia, ele usa esse poder para voltar no tempo. Todavia, esse processo cria um mundo sem heróis justamente no momento em que o General Zod prepara sua invasão (que deveria ser contida pelo Superman, como foi visto em Homem de Aço. Agora, Allen e sua versão alternativa contam apenas com a ajuda de um Batman aposentado, e uma nova força kryptoniana mantida em segredo na Terra.
A comparação entre “Flash” e “No Way Home” procede, como se pode ver na sinopse. Trata-se de uma grande confusão causada por um superpoderoso jovem tentando consertar um mal criando uma confusão que afeta o multiverso. E em meio a tudo isso, muitas referências e fan services pululam na tela para empolgar o público. Podemos dizer que Flash acerta justamente nesse ponto, apesar de pecar um pouco pelo excesso. O mal passo está na forma displicente com que lidou com a argamassa narrativa que liga toda essa pândega super-heroica, sem contar com a parte técnica, com um CGI que chega a ser constrangedor.
Não é novidade para ninguém que Ezra Miller protagonizou episódios deploráveis e indefensáveis na vida pessoal. Mas no filme é possível (fazendo bastante força) dissociar ator de personagem. O incômodo é outro: como um personagem conhecido por sua inteligência acima da média pode agir de forma tão bisonha? E sua versão derivada da nova linha temporal não apresenta nenhuma justificativa para ser praticamente desprovida de massa encefálica. São esses dois que conduzem a trama, o que poderia levar a coisa para o abismo, se não fosse o suporte de Keaton, que mostra como estavam errados aqueles que o atacavam há três décadas por ser um Batman ruim. Claro que o fator nostalgia torna tudo muito mais favorável para o veterano hoje, mas é inegável que sua participação é um dos trunfos da trama.
O diretor Andy Muschietti (“It: A Coisa”) cumpre sua função preso às mãos de ferro do estúdio, que fez todas as alterações possíveis no roteiro de Christina Hodson e Joby Harold para que tudo fizesse sentido nessa transição de universos dentro da DC, que encerra a tentativa de se criar um universo compartilhado como o da Marvel que se iniciou com Zack Snyder e chega até agora com Walter Hamada, que por sua vez substituído por James Gunn. A tarefa ingrata de dar um fim de forma abrupta a um projeto tão conturbado de fato prejudicou o produto final, mas não teve peso maior do que as piadas pueris e incoerências científicas (por mais que se trate de ficção).
Por fim, “The Flash” sofre com seus baixos e se valida nos altos na mesma frequência. Quando o filme exibe suas falhas parece auto-sabotagem do estúdio, entretanto quando funciona se mostra uma potente transcrição do espírito dos quadrinhos para o cinema. E há uma sequência encadeando homenagens que certamente arrancará lágrimas dos DCnautas mais aguerridos. São nesses bons momentos que o espectador aficionado pensa consigo mesmo sobre como é bom ser fã de super-heróis.
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