O desespero em capitalizar em cima de um gênero, que vem alimentando abastadamente o cinema nacional recente, tem demonstrado que o mercado não tem tido a menor vergonha de ser claramente medíocre. Figuram nos cinemas duas comédias – que inclusive estrearam juntas, no mesmo dia -, que apontam a gravidade da questão: “Copa de Elite” e “Julio Sumiu”. O primeiro é um longa que se propõe a parodiar sucessos do cinema brasileiro em uma história envolvendo a Copa do Mundo no Brasil. O segundo é uma crônica cotidiana da classe média como um todo, o que já nasce como piada (quase) pronta. Dirigida Vitor Brandt (que também roteiriza – mal), “Copa de Elite” vai se valendo de referências sem graças de filmes como “Minha Mãe é Uma Peça”, “Se Eu Fosse Você” e “Nosso Lar” para contar as desventuras de um policial do BOP (“Tropa de Elite”) para reaver seu cargo após ser expulso da corporação. O mais interessante é que ser alusivo a premissa “Todo Mundo Em Pânico” é esquizofrênico principalmente pelo próprio “gênero” estar em crise atualmente nos EUA, com diluições desnecessárias como “Inatividade Paranormal”, em que a graça fica restrita a pretensão. Resultado, a comédia nacional é uma tentativa desesperada de ser engraçada, atirando para todos os lados (estou até agora tentando entender a escalação de Anitta e Rafinha Bastos) e o desperdício de talentos como Marcos Veras e a ótima Júlia Rabelo. Sabe aquele filme que quando termina você fica entre a irritação e a perplexidade e se pergunta: “Por que?”? Por aí…
“Julio Sumiu” é inspirado no livro homônimo do “Casseta” Beto Silva e é uma tentativa menos oportunista, mas atrapalhada de alimentar o gênero. A história, dramaturgicamente, é até ok. Entretanto, o diretor Roberto Berliner (do celebrado documentário “A Pessoa é para o que Nasce”), parece não saber lidar com a dinâmica narrativa de uma comédia de erros, em que a construção de personagens deve ser tão ou mais importante que o andamento narrativo em si. Apesar da potente presença de Lília Cabral, o filme não é bem sucedido em nenhuma das tentativas, e revela-se sem ritmo, sem graça e o pior, sem representar a contento o sentido do próprio plot. E olha que o autor do livro é um dos autores do roteiro. O mais grave mesmo é a direção perdida de Berliner que tira muito da força do filme em si. Ou seja, dois filmes de comédia sem o menor cuidado nessa representação. É a lógica mercantilista que rege o cinema “de bilheteria certa” que temos atualmente. Se lembrarmos que até a pornochanchada setentista acabou sufocada por sua banalização, já dá para vislumbrar que os tempos futuros não terão graça nenhuma. Dessa vez, para o próprio mercado de cinema.
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