É até estranho para quem se acostumou com o nome de Jon Favreau associado a blockbusters vê-lo estampado à frente dos créditos de uma despretensiosa comédia gastronômica de baixo orçamento. A nova produção desse nova-iorquino de 47 anos, nascido Jonathan Kolia Favreau, não tem nada a ver com super-heróis e efeitos especiais. O homem que transformou o Homem de Ferro em um dos maiores fenômenos pop deste início de século XXI e inaugurando à dinastia Marvel Studios se voltou para um assunto de seu profundo interesse: a culinária.
Chef (Idem, EUA/2014) mostra Carl Casper (Favreau), um renomado chef de cozinha de um badalado restaurante em seus esforços para impressionar um crítico gastronômico que está para visitar a casa. Impulsionado por Riva, dono do restaurante (Dustin Hoffman), ele abre mão de servir um prato engenhoso desenvolvido em sua cozinha e serve o da preferência popular. O resultado é uma severa crítica no blog do crítico que se espalha na velocidade das redes sociais.
Após uma tensa discussão com o jornalista na segunda visita ao estabelecimento e o seu afastamento das atividades, Casper, desempregado, se contenta em acompanhar sua ex-esposa Inez (Sofia Vergara) em uma viagem para Miami, para que ela cuide de negócios, enquanto ele toma conta do filho Percy (Emjay Anthony). Como descanso de bom pedreiro é carregar pedra, surge a oportunidade de usar um trailer como posto de venda de sanduíches com seu toque mágico de chef e a ajuda luxuosa de seu ex-assistente no restaurante Martin (John Leguizamo). De quebra, ele leva Percy na empreitada e tem a oportunidade de se fazer realmente presente na vida do garoto, já que até então, apenas cumpria no piloto automático com suas obrigações de pai, levando-o para sair, sempre de olho no relógio ou no celular. De Miami passam a cruzar o país no furgão fazendo muito sucesso graças ao Twitter, que a principio fora o catalisador da desgraça de Casper.
Embora tenha participações como ator em 60 produções, Favreau não costuma ser lembrado por essa faceta, que fora eclipsada por seu trabalho como diretor sobretudo nos dois primeiros filmes do Homem de Ferro. Aqui, além de dirigir e atuar, ele também produz e assina o roteiro. Para dar ainda mais credibilidade ao personagem, Favreau teve aulas de culinária francesa com o chef Roy Choi, em um verdadeiro curso intensivo de uma semana, onde aprimorou suas habilidades com a faca e aprendeu a preparar molhos. O acerto do roteiro foi, além do delicioso clima de road movie gastronômico, dar bastante espaço para os coadjuvantes brilharem ao girar na órbita do protagonista.
Fica claro que se trata de uma ação entre amigos. Inclusive temos no elenco dois atores que constavam na série Homem de Ferro: Scarlett Johanson, no papel da funcionária do restaurante que tem um caso com o chef, e Robert Downey Jr., que faz uma participação bastante curta, mas impagável como o ex-marido da ex-esposa do protagonista que empreende o projeto do furgão gastronômico. É sem exagero o melhor momento do filme, e de tão espontâneo fica no ar a impressão de que o ator sequer cobrou pela participação. Até porque se Downey Jr. é hoje o ator mais bem pago de Hollywood, isso se deve a Favreau, que literalmente o tirou do lodo ao escalá-lo para o papel de Tony Stark.
É interessante observar a destreza do diretor em captar, nas cenas de culinária, não só a plástica dos ingredientes e pratos que vemos sendo preparados, mas também toda a atmosfera mágica que envolve o ato de se cozinhar e se comer bem, reforçando a tese de que a gastronomia é uma arte. Sem isso, a trama perderia muito da força. Mas, felizmente isso acaba servindo de argamassa para uma ótima direção de atores e garante um entretenimento aprazível. Sem grandes pretensões, e isso fica claro desde o início, mas bem realizado, e contribuindo para provar a versatilidade do cineasta, cujo próximo projeto será uma adaptação de Mogli – O Livro da Selva. Se há uma coisa que não se pode dizer de Jon Favreau é que ele bate sempre na mesma tecla.
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