Depois que se consagrou em filmes como “Velocidade Máxima” e (principalmente) a trilogia “Matrix”, Keanu Reeves se tornou um improvável chamariz para filmes de ação, assim como o que ocorreu com Liam Neeson com o sucesso de “Busca Implacável” e sua sequência (a terceira parte estreia em 2015). Tanto que, nos últimos anos, Reeves tem filmado pouco, mas geralmente está envolvido em produções de artes marciais (uma de suas paixões), como “47 Ronins” e “Man of Tai Chi”, que também dirigiu. Agora, o astro estrela mais uma história com muitos tiros, lutas e explosões, do jeito que a maioria do público gosta. Pena que, tirando esses elementos, “De Volta ao Jogo” (“John Wick”) tem muito pouco a oferecer.
Na trama, Reeves interpreta o John Wick do título original, um ex-assassino profissional que abandonou a vida de crimes depois que se apaixonou por Helen (Bridget Moynahan) e se casou com ela. Mas a felicidade dos pombinhos dura pouco porque Helen acaba morrendo de uma doença fatal. Ainda sofrendo com a perda da esposa, John passa os dias acompanhado apenas do cachorro que ganhou de presente de sua amada, enquanto tenta se recuperar do luto. Porém, as coisas mudam quando o seu caminho cruza com o do bandido Iossef Tarasov (Alfie Allen), que se interessa pelo carro de John, um Ford Mustang 1969. O criminoso, junto com alguns capangas, invade a casa do ex-matador, o espanca e mata o cão antes de levar o carro. É o bastante para que John saia de sua inércia e volte a encarar o submundo para se vingar de Iossef. O problema é que o rapaz é filho de seu ex-patrão, Viggo Tarasof (Michael Nyqvist), um mafioso russo que decide pôr a cabeça de Wick a prêmio, atiçando a cobiça de outros assassinos. Mesmo assim, ele não se intimida e parte com tudo (e mais um pouco) para concluir a sua vingança.
Se o espectador quer apenas passar um tempo dentro de um cinema para assistir apenas (como diz a música da Valesca Popozuda) tiro, porrada e bomba, “De Volta ao Jogo” deve ser considerado para ele um dos melhores filmes do ano. As cenas de luta são realmente muito executadas e mostram que Reeves, aos 50 anos, ainda tem muita energia para sequências de pancadaria e tiroteio (embora ainda seja um ator pouco expressivo nas cenas dramáticas), chegando em empolgar em alguns momentos, onde se destaca a direção de Chad Staheski e David Leitch, que só derrapa mesmo na sequência final. No entanto, o roteiro de Derek Kolstad falha por criar uma trama que parece ter chegado ao fim após 30 minutos de filme e parece dar voltas para justificar a sua metragem, além de estar cheio de clichês típicos deste tipo de produção. A única parte interessante é quando o protagonista se hospeda num hotel especial para matadores, onde se destaca o educado gerente interpretado por Lance Reddick, conhecido de séries como “Lost” e “Fringe”. Ainda assim, é muito pouco para tirar a trama do lugar comum.
Outro problema grave que acontece em “De Volta ao Jogo” está no desperdício de seu elenco. Willem Dafoe tem uma de suas piores participações recentes no cinema como o ambíguo assassino Marcus, mesmo com sua já habitual competência para interpretar criminosos. E o que dizer de Ian McShane, completamente perdido como o bandido que serve como “conselheiro” do protagonista? John Leguizamo pouco tem a fazer como o dono de oficina com conexões no submundo. A bela Adrianne Palicki faz a típica mulher fatal personificada na assassina Srta. Perkins, mas também se torna irrelevante em cena. Já Alfie Allen (irmão da cantora Lilly Allen) faz seu personagem com uma arrogância convincente para a sua vilania, mas não muito diferente do Theon Greyjoy que interpreta na série da HBO “Game of Thrones”. O sueco Michael Nyqvist, que estrelou a primeira versão para o cinema dos livros da série “Millenium”, falha em ser o grande vilão do filme pelo simples fato de que ele não soa, em nenhum momento, ameaçador ou mesmo carismático. Ele também tinha apresentado o mesmo problema em “Missão Impossível: Protocolo Fantasma”.
No fim das contas (ou das balas), “De Volta ao Jogo” não pretende reinventar a roda dos filmes de ação e quer apenas entreter o grande público, o que é parcialmente bem sucedido. Mas suas falhas comprometem o resultado final, que poderia ser bem melhor se o argumento e o roteiro fossem mais instigantes e não ficassem apenas preocupados em elaborar as cenas de violência. Vale apenas como um passatempo rasteiro e nada mais.
Adorei a crítica, parabéns!
Valeu, Úrsula!!! Muito obrigado mesmo!!! Abraços.