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Crítica: "Não Pare na Pista" conta a vida de Paulo Coelho com pouca magia

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As cinebiografias de personalidades contemporâneas vão de vento em popa no Brasil. Depois dos cantores Cazuza, Zezé Di Camargo & Luciano, Luiz Gonzaga e Renato Russo, chegou à vez de Paulo Coelho, escritor brasileiro que já vendeu mais de 150 milhões de livros e cujas obras já foram editadas em mais de 168 países e traduzidas para 81 idiomas, sendo as mais conhecidas “O Alquimista”, “Diário de um Mago” e “Brida” (que virou uma fracassada novela na extinta TV Manchete) e uma delas (“Veronika Decide Morrer”) chegou até a virar filme. Portanto, não é de estranhar que a sua vida fosse transportadas para as telas de cinema. É uma pena, no entanto, que “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” (uma coprodução Brasil-Espanha) tenha ficado um pouco a desejar.

A trama mostra, de forma não linear, várias fases da vida do escritor, como a tentativa de suicídio na adolescência (quando é interpretado por Ravel Andrade), que levou os pais (Enrique Diaz e Fabiula Nascimento) a interná-lo numa instituição psiquiátrica (para onde voltaria mais tarde para passar por sessões de eletrochoque), seu envolvimento com o Teatro e a criação de peças, suas relações com belas mulheres (entre elas, Ana, interpretada por Letícia Colin, e Luiza, vivida pela exuberante espanhola Paz Vega), seu envolvimento com drogas (já na fase adulta, vivido por Julio Andrade, irmão de Ravel), o interesse por Ufologia, a parceria musical com Raul Seixas (Lucci Ferreira) e o casamento com Christiana Oiticica (Fabiana Gugli). O filme também mostra a viagem que Paulo Coelho fez a Santiago de Compostela, na Espanha, numa busca espiritual, e que tentou refazê-la anos depois, com a esposa, além de seus primeiros percalços para escrever e publicar seus livros.

O problema é que, com tanta história para contar, “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” soa superficial ao não se aprofundar em praticamente nenhum momento relevante da vida do escritor. A direção do estreante Daniel Augusto não consegue despertar maior empatia do espectador ao tratar alguns acontecimentos de forma fria, como os conflitos entre Paulo e seu pai durante a juventude ou quando, mais velho, entra em crise após desistir de seu trabalho como diretor de uma gravadora de discos para escrever e não consegue ter nenhuma inspiração para isso. Outro ponto fraco do filme está no roteiro de Carolina Kotscho, cujo trabalho mais conhecido é o texto do grande sucesso “2 Filhos de Francisco”. Enquanto que na produção dirigida por Breno Silveira a história da formação de uma das mais famosas duplas sertanejas do Brasil conseguiu um bom resultado para cativar o público, aqui, a roteirista não foi bem-sucedida para equilibrar todos os fatos ocorridos com seu protagonista e acabou fazendo apenas um panorama de sua vida, que passa muito rapidamente pela tela. O que também chama a atenção negativamente é a maquiagem usada para deixar o ator Julio Andrade mais parecido com o biografado atualmente, que não parece natural. Em algumas cenas, por exemplo, é possível notar o látex utilizado em seu rosto.

Mesmo com essas falhas, o filme também teve alguns acertos. Um deles está na parte que conta como foram criados os sucessos da dupla Raul Seixas/Paulo Coelho, como “Al Capone” e “Sociedade Alternativa” (que conta com uma ponta divertida de Zéu Britto), além das questões envolvendo a autoria do hit “Gita”. Estas sequências tiram a produção do marasmo e a tornam bem mais empolgante, amparadas pela ótima trilha sonora e uma boa montagem. Aliás, tecnicamente, “Não Pare na Pista” é muito bem feito, com uma fotografia bem realizada e uma edição de som exemplar. Repare nas cenas em que o jovem Paulo Coelho sofre com algumas vozes que ouve quando está internado no manicômio.

O elenco também é um dos pontos fortes de “Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho”. Julio Andrade, que já tinha se destacado ao interpretar Gonzaguinha em “Gonzaga: De Pai Para Filho”, volta a impressionar ao viver o protagonista na idade adulta, ficando bem semelhante ao escritor ao imitar com perfeição os seus gestos e o jeito de falar. Uma cena que destaca sua atuação é quando enfrenta um policial ao ser preso injustamente. Seu irmão, Ravel Andrade, também realiza um bom trabalho como o adolescente revoltado com a pressão exercida pelo pai autoritário, bem defendido por Enrique Díaz. Já Fabiula Nascimento está apenas correta como a mãe de Paulo e Paz Vega, falando em português, não tem muito que fazer e vale apenas como curiosidade. Mas o principal destaque é o pouco conhecido Lucci Ferreira que vive no filme Raul Seixas. Ele conseguiu dar o tom perfeito para representar o Maluco Beleza e chama a atenção toda a vez que aparece. É uma pena, no entanto, que tenha poucas cenas. Daria para fazer um filme inteiro só sobre a parceria entre os dois, tamanha a química que rola entre os dois atores.

“Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho” não deve ser visto como a visão definitiva sobre o autor do livro mais traduzido no mundo (“O Alquimista”). Mas serve para quem não conhece muito sobre a vida do escritor e quer ter uma ideia, ainda que vaga. No futuro, talvez surjam outras produções que contem melhor a sua vida. Se isso acontecer, que pelo menos sejam realizadas com mais energia, paixão e até mesmo magia. Elementos que são mais do que bem vindos para uma boa cinebiografia.

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