Ao contrário de Sean Connery e a exemplo de Roger Moore, o irlandês Pierce Brosnan teve sua imagem unicamente vinculada a de 007 nos cinemas. O ator encarnou o agente criado por Ian Fleming em quatro filmes e mesmo após ter sido substituído pelo ator inglês Daniel Craig há oito anos, sua presença nas telas ainda nos remete aos tempos de James Bond. E olha que ele nem foi a melhor versão do espião com permissão par matar. Isso se deve à escassez de bons papeis oferecidas a ele desde que deixou a franquia que o tornou famoso. Papéis secundários, comediazinhas sem muito prestígio, filmes de ação não muito empolgantes, foi isso que sobrou para ele hoje aos 61 anos de idade. “November Man – Um Espião Nunca Morre” (“The November Man”, EUA/2014) está inserido nesse último grupo.
Nesta adaptação do romance de espionagem de Bill Granger, “There Are No Spies”, o veterano agente da CIA Peter Devereaux (Brosnan), conhecido pelo codinome que dá título ao filme, se aposenta da agência em 2008, após seu parceiro e pupilo David Mason (Luke Bracey, de “G.I. Joe: Retaliação”) desobedecer às ordens de Devereaux não para disparar sobre um assassino, devido à falta de um bom primeiro plano e um plano de fundo, matando acidentalmente um criança durante uma missão para proteger um embaixador norte-americano em Montenegro. Devereaux se aposenta na Suíça onde abre um café e leva uma vida tranquila até os dias atuais, quando então é trazido de volta à ação, por um motivo pessoal e também ao se encarregar de proteger Alice Fournier (Olga Kurylenko), uma testemunha que algumas pessoas poderosas preferem ver silenciada. Nesse contexto Peter e vê-se confrontado com o seu ex-pupilo em um jogo mortal envolvendo funcionários da CIA alto nível e o presidente russo eleito.
November Man como filme de espiões deixa bastante a desejar por sua trama genérica, com sequências de ação banais e situações bastante previsíveis. Até há a tentativa de se prender a atenção do espectador com o velho recurso das reviravoltas, mas a narrativa cansativa e irritantemente complicada colocam a perder. O antagonismo entre o mestre e o discípulo até surtiria um resultado interessante se fosse bem desenvolvido, mas acaba caindo em um jogo de gato e rato enfadonho por boa parte da projeção. Os clichês de filmes de espionagem da época da guerra fria estão todos lá. Inclusive, a trama deixa nas entrelinhas que ela talvez nunca tenha acabado.
A Pierce Brosnan, que também assinou a produção exutiva do filme, só lhe restou repetir os maneirismos e trejeitos de James Bond na tentativa de imprimir algum carisma ao personagem e gerar alguma empatia com o público. Fica claro, tanto nos cartazes e chamadas nos EUA (com coisas do tipo “o espião está de volta”) quanto no infeliz subtítulo nacional que a película recorre à sombra de 007 como chamariz.
Notório por atuar como diretor de aluguel em filmes que não grudam na retina (com exceção de “Sem Saída”), o australiano Roger Donaldson também não faz muito para imprimir algo de marcante em sua direção, provavelmente pouco inspirado pelo roteiro engessado de Michael Finch (“Predadores”) e Karl Gajdusek (“Oblivion”).
Por fim, o que se vê durante os 103 minutos de ‘November Man’ é um filme ultrapassado, refém de um maniqueísmo anacrônico, assim como as tramas de James Bond. A diferença está no charme presente nos filmes do agente britânico que não encontramos em nenhum momento neste aqui.
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