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Crítica: “Promessas de Guerra” mostra que Russell Crowe ainda é melhor ator do que diretor

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Quando esteve no Rio de Janeiro, em março de 2014, para lançar “Noé”, de Darren Aronovsky, Russell Crowe falou sobre “Promessas de Guerra” (“The Water Diviner”), o primeiro filme que, além de estrelar, também dirigiria. O ator, vencedor do Oscar por sua marcante interpretação em “Gladiador” em 2000, se mostrou bastante entusiasmado com seu novo trabalho e cogitou até deixar de aparecer na frente das câmeras para ficar mais atrás delas. Um ano depois, os brasileiros poderão finalmente conhecer a empreitada de Crowe, que tem alguns bons momentos, mas peca por uma certa irregularidade, mostrando que o astro, embora tenha se mostre bastante esforçado, ainda está longe de ser um verdadeiro cineasta.

Ambientada quatro anos após a Batalha de Galípoli, quando houve a invasão da Turquia por soldados da Austrália, Grã-Bretanha e França no fim da Primeira Guerra Mundial, a trama acompanha a jornada de Joshua Connor (Russell Crowe), um fazendeiro especialista em encontrar água no subsolo de regiões desérticas onde mora (o que justifica o “Water Diviner” do título original), junto com a esposa Eliza (Jacqueline McKenzie), qu vive numa eterna tristeza desde que os três filhos se alistaram para lutar na guerra e estão desaparecidos.

Após a morte de Eliza, Joshua decide, então, deixar tudo para trás e encontrá-los. Assim, ele parte parte para Istambul, na Turquia, para obter informações de onde poderiam estar os possíveis restos mortais dos filhos. Chegando lá, ele estabelece uma amizade com o menino Orhan (Dylan Georgiades), que o leva a se hospedar no hotel gerenciado pela mãe, a viúva Ayshe (Olga Kurylenko). Apesar de não ter sido autorizado pelo governo britânico, Joshua consegue chegar a Galípoli, onde conhece o major Hassan Bey (Yilmaz Erdogan) e o sargento Cemal (Cem Yilmaz), que também procura localizar seus soldados mortos no mesmo lugar, com o auxílio do tenente-coronel britânico Hughes (Jai Courtney). Ao descobrir pistas de que um de seus filhos, Art (Ryan Corr) pode ter sido levado como prisioneiro desde o fim da guerra, Joshua volta para Istambul para obter mais informações e tentar levá-lo de volta para casa.

Como diretor iniciante, Russell Crowe mostra algum domínio do ofício e torna “Promessas de Guerra” um filme que consegue manter a atenção do espectador, com boas cenas de ação, especialmente as que envolvem o protagonista e os militares turcos, que confrontam o exército grego, no terço final da trama. Mas ele não é tão bem sucedido nas sequências dramáticas, onde carrega um pouco além da conta nas tintas, deixando tudo melodramático demais. Além disso, Crowe não é muito feliz ao empregar a trilha sonora de David Hirschfelder em alguns momentos, que dão um clima de aventura desnecessário para um filme que quer ser levado mais a sério. Outro problema está na trama romântica criada para envolver Joshua e Ayshe, onde parece ter sido colocada à força para agradar o público mais sentimental, mas parece deslocada do resto da história, escrita por Andrew Knight e Andrew Anastasios.

Porém, o que realmente salta aos olhos e torna a produção mais marcante é a belíssima fotografia de Andrew Leslie, vencedor do Oscar de 2002 por “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, que aqui realiza seu último trabalho, já que morreu em abril deste ano, aos 59 anos. Ele captou com extrema beleza as locações da Austrália e da Turquia e poderia ser lembrado com indicações póstumas de importantes premiações de 2016, como o Oscar e o Globo de Ouro. Outros destaques positivos do filme são as bem realizados figurino (de Tess Schofield) e direção de arte (a cargo de Cagri Aydin, Rodin Alper Bingol e Marita Musset).

Em termos de atuação, Russell Crowe obtém um resultado bem melhor do que como diretor e utiliza seu carisma para tornar Joshua um personagem interessante, embora tenha obtido resultados melhores em outros filmes como “Gladiador”, “O Informante”, “O Gângster” e até mesmo em “Noé”. Já a bela Olga Kurilenko mostra que está evoluindo como atriz e consegue convencer como sofrida Ayshe, enquanto Jai Courtney pouco tem a fazer com o seu papel. Mas os principais destaques do elenco são o menino Dylan Georgiades, que quase passa do ponto, mas não se torna uma criança irritante, e o ator turco Yilmaz Erdogan, que impõe respeito e até mesmo nobreza para o seu major Hassan Bey e faz uma boa parceria com Crowe.

Apesar da irregularidade, “Promessas de Guerra” é uma boa estreia de Russell Crowe como diretor, que teve o mérito de contar uma história pouco mostrada no cinema comercial. Pode ser que, no futuro, ele cumpra a promessa de se dedicar mais à direção do que a atuação. Mas seu maior talento ainda está em representar e nada impede que ele concilie as duas carreiras e seja bem sucedido em ambas, como Clint Eastwood, Robert Redford, George Clooney e tantos outros. Basta saber escolher melhor seus próximos projetos e não deixar a arrogância tomar conta de seu ego para que tudo dê certo para ele nos anos que virão.

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