Nada melhor para começar o Festival do Rio da retomada do que um filme que celebra o cinema como asilo inviolável e o melhor refúgio. Se todo cineasta tem sua declaração de amor escancarada ao cinema, “Império da Luz” é a carta de Sam Mendes a como a Sétima Arte é imprescindível em nossas vidas, levando-nos a questionar como foi possível a vida sem ela por tantos séculos.
Situado em uma cidade litorânea inglesa no início dos anos 80, é uma história sobre como a magia do cinema se porta contrastando com as vicissitudes do cotidiano e da existência.
Hilary (Olivia Colman) é uma mulher que sofre de problemas psicológicos e trabalha como gerente do cinema Império. Junto com ela na administração do cinema estão o chefe mal-humorado Sr. Ellis (Colin Firth), os assistentes Neil (Tom Brooke) e Janine (Hannah Onslow) e o projecionista tão peculiar quanto apaixonado pelo seu ofício Norman (Toby Jones). À equipe se une um novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um jovem negro que procura o emprego enquanto espera ingressar em uma universidade.

O tradicional cinema e sua arquitetura imponente (tanto interna quanto externa) compõe o cenário juntamente com as paisagens da costa sul da Inglaterra. Ali é costurado como pano de fundo o contexto crise econômica que assolava o Reino Unido na virada dos anos 70 para os 80 e a intolerância aos imigrantes.
Sam Mendes, em seu primeiro filme após o festejado “1917”, confirma sua maturidade como realizador com um trabalho de direção arrojado, alternando grandiosidade com um singelo minimalismo. Além do elenco estelar, Mendes repete sua colaboração com o diretor de fotografia vencedor do Oscar Roger Deakins (1917, Skyfall). É a quinta vez que trabalham juntos.
Embora este seja o nono filme de Sam Mendes como diretor, Empire of Light (no original) marca a primeira vez que ele dirige a partir de um roteiro que escreveu sozinho. Todos os seus outros filmes, incluindo seu primeiro crédito de roteiro 1917, foram dirigidos a partir de roteiros de outros roteiristas.

Olivia Colman brilha em um papel complexo e cheio de camadas. Esse é sem dúvida um dos trabalhos mais impressionantes da atriz, que vem se firmando como uma das maiores de sua geração. Apoiada pela sempre impecável direção de atores de Mendes, ela gera empatia, transbordando humanidade e torna de fácil compreensão para o espectador as nuances mais sutis de sua personagem.
Colin Firth representa um tipo que a princípio pode parecer caricato, mas vai aos poucos revelando subtextos; o jovem Micheal Ward desempenha seu papel com segurança, no tom exato aproveitando todo o suporte dos veteranos. Já Toby Jones como Norman rouba o show usufruindo plenamente do presente dado a ele, o personagem que é a mola-mestre de toda a engrenagem: o responsável pela magia, propositalmente composto como um alquimista, gênio excêntrico.

“Império da Luz” teve apenas uma exibição antes do Festival do Rio, em Toronto. Quem conferiu já aponta como uma aposta plausível para o Oscar 2023. Não é exagero, posto que a Academia de Hollywood tem predileção por longas que coloquem o cinema na função de fábrica de sonhos sob os holofotes. Certamente Sam Mendes não o fez assim visando caçar prêmios, e sim porque sabia que é um mote difícil de errar.
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